sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Limite

Não diga que forte é a luz
E triste é a escuridão
Também maléfico é o equilíbrio
que traria essa impressão
É certo que se completem
Mas não que haja um só noite-dia
É a distância, o porém
Aquilo que os diferencia
E se não for a noite mais que um dia
Não haverá lógica nas sucessões
E se não houver dia após as noites
Não haverá paz nos corações
Pois somente com o fim
um começo se descortina.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"Que sempre dê frutos"

Prossiga verde, figueira
Não irá se desmanchar
Não é sua a culpa
De com as estações mudar

Está aí uma parábola
Que não posso interpretar
Por que mais um fruto é proibido?
Não bastava esperar?

Os frutos virão, tão certos quanto o dia
E se a noite se prostrar eterna
Ainda haverá o frescor
E a paisagem de alegria

Não seque porque lhe ordenam
Nem todos os frutos servirão ao corpo
Mas ainda podem engrandecer a alma

Figos, figurem-se eternos
Mesmo em sua lembrança
Se até se movem as montanhas
Por que não figos como herança?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Não se aquabrote os oculares

De que vale o lamento
se alimento da alegria?
e de que vale de lágrimas
brotou o firmamento,
indiscreta ousadia?

E adianta chorar
se de nada adianta?
adianta brigar
com essa tautologia?

Alguns momentos se vão,
algumas pessoas também,
alguns morrem em vão
por nao se sabe o que, ou quem,
outros dias apenas passam,
outros não passam e tem
a eternidade das nossas lembranças.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Recusante

Dizer-me que a ternura é teu céu?
Que teu amor encabula e te restringe?
Do que estás a brincar?
De verdades meu mundo se faz
Embora o fantástico seja a lei
Não posso dizer que aqui há
Mais do que já considerei
Seria um jeito sacana de falar
Que do fel ou mel, nada me fez melhor
Que nem o fogo nem a água
Mudaram meu ser
Que nada há mais para querer.
Deixarei que mais um silêncio me entorne
Porque descobrir não trás o sim
Então, não me descubra.
Até mesmo as raízes verdes
As negativas sufocam.

sábado, 20 de novembro de 2010

Aanragam

O caminhar sussuro,
descampado semente.
pelo calmo arboredo,
ouço do galho a somente.

Passa um carro fumaça,
deixa em mim um vazios,
velocidade nos ares,
os quatro pneus desejo.

Estrelas cadentes discorda
cai no céu errado
no seu jardim pululam
se escondem as joaninhas.

Infancia

No canto da sala de comer
o quanto é bom dizer, conversar
o encanto de ouvir histórias,
enquanto na mesa balançar
as pernas ainda pequenas,
os causos ainda inverídicos,
e tantas memória na cenas,
e o sol da tarde no rosto.
e o céu encarde o ritmo,
me ponho a brincar com agua,
ouvindo sua voz tão calma.
Às vezes me lembro da alma.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Analgésico

Se eu sonho, não penso,
se insisto, saem palavras vãs,
tortas, sem senso,
sem extensão para a mar.

Se assim é a sina,
sem a qual não sei se vale
a pena que eu sinto
daqueles que tanto sofrem.

Se assim assassina
seus desejos mais nobres,
tampouco estricnina
quanto sustentar os pobres
tem o mesmo efeito:
o defeito de não ter.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Vejo oculto o broto de fel
amargo e mudo sou peso em pesar
quase que morto não caio pro céu
Podre e inquieto sem muito odor
quase sincero não posso chorar
negra visão com límpido labor
sonho que sonho sem dormir
a noite que me queima a visão
sofro com forte indignação
triste, não consigo sorrir
o sol há de me queimar
o fel não vai me amargurar
sou o amargo das papilas
sou minha própria sofreguidão
vivo à beira da minha própria lápide

In memoriam

Na foto o seu riso
Escondido pelas linhas do rosto
Que sei bem onde enxergar
Me afagam dizendo
Que tudo está em seu lugar
Mas está tudo torto
Porque você não é mais
E não mais será
Virando fantasma
Fez-me fixar
Não como lembrança que um dia vai passar
Mas como a presença que não vai me deixar
Incorpóreo, jamais esteve tão vivo
Vejo-o em todo lugar
Preocupada, não saudosa
Sinto-me oscilar
Oh, vida, por quê?
Obrigou-me aos silêncios
Que alimentam meu desespero
Que me afastam e escondem
Silêncios que não se calarão...

Talvez sejam o preço
deste estranho coração.

Derrocada

Sentir e não sentir se entremeiam
No mesmo corpo que sofre
Será a casca mais forte que o mal?
Ou foi tomada por ele?
Ainda resta dor
Para onde quer que olhe
E as forças são pobres
Sucumbem às crenças impostas
E a luta entra em latência
Não tiraram as armas
Mas os objetivos
Tal qual em guerra sem trégua
Deixamo-nos ir
Para as valorosas medalhas
[que nada valem].

sábado, 6 de novembro de 2010

Contemplação

Vejo que as nuvens sorriem
E que cada espaço é um mundo
Que há vida aqui
E há vida lá
Protagonistas e secundários
Vivemos no mesmo lar
Círculos em círculos
Ciclos e ciclos
Cada parte uma história
Cada história uma parte
E a poesia está onde o coração está
Não o que bombeia a vida
Mas o que bombeia a alma
Não o que escreve a história
Que estressa ou que acalma
Mas o que está onde a essência está.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lei

Desorienta o professor,
o padre e o policial,
sai ilesa da conduta,
da luta artificial
pra manter o sonho vivo,
e depois viver sem sonhar,
alugar o filho adotivo
pra contratar a babá.

Não vá fingir
que o outro é que não presta,
fingir que é infeliz,
fingir estar sempre com pressa,
mas fingir ser péssima atriz.
E diz que a vida estressa,
mas só se preocupa com seu nariz.

Não são lágrimas, é a chuva que cai no rosto

O meu dia anda chuvoso,
mas não de molhado que cai do céu.
Brumas que enchem meus olhos,
e o sentimento de réu,
escr*vo pra poder sentir
fora de mim o que é.
Escr*vo da senzala culta,
do negro pensamento.
Se cravo meu julgo ali,
é pelo discernimento
que, tenhamos que convir,
é o unico argumento.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ícone Icógnito

Quiseram os deuses antes,
adorar a nós, humanos,
Dourados e Intocáveis
troféis da criação,
que pelo seu tratamento
vai se envaidecendo então.
Que se passa pela cabeça,
pra se pensar que não,
a nada que aconteça,
perderá seu posto magno?
E o deus do trovão,
já até perdeu o gosto
de mandar, tudo em vão,
deletério tão insosso,
maltratar a mente humana.
E essa, pueril, insana,
se corrompe por ilusão,
vende o peixe, vende a alma,
troça sua fé como um grão,
perde o senso, perde a calma,
só não perde a admiração
pelo que ainda não conhece.

sábado, 30 de outubro de 2010

Licença poética

Semana que vem começa o curso, para tirar licença poética. Conto, desde já, as horas, os minutos, os segundos, esperando a hora que poderei escrever o que quiser, e minhas palavras serão quem elas quiserem.

Tenho planejado construir várias coisas com minhas palavras, pensei em construir um mundo melhor, mas descobri que isso é clichê demais. Então decidi que vou plantar uma árvore e contruir em seus galhos uma casa de vidro, com porta que sai direto na lua.

Dizem que a prova é bem difícil, mas não estou apreensivo, tenho me preparado bastante, além do mais, já é a segunda vez que faço...

No mais, me desejem sorte, espero que da proxima vez que eu escrever um texto em prosa, já esteja com minha licença poética na mão.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Enjeitado

Sumiço da submissão,
bem quisto antes,
hoje não.
Insisto em vão
que pereçam os valores
da Inquisição.
Em que sabores
se esconde a não-sensação?
E se de um não pensamento,
ao invés de um tormento,
e de perseguição, me deres alimento?
Insisto, sedento
de algum argumento,
que ores por mim.
Mesmo que sem,
o seu sentimento,
sem consentimento
para ser assim,
espero que entenda,
me surpreenda,
goste de mim.

sábado, 23 de outubro de 2010

Desconfio

Dos sons que tilintam
E das vozes que ecoam
Do sorriso partido
E do brilho que ofusca
Do escuro que dorme
E do silêncio que não canta
Das verdades que batem
E das regras que assustam
Das histórias com final
E das retas sem direção
Dos palácios sem vida
E dos jardins sem emoção
Desconfio da mente
E de meu coração

Em tese

Soube do brilho do sol
Pela intensidade da chuva
Do tremer das folhas
Pelo frescor do vento
Da estrada clara
Pelo breu futuro
Da ave rara
Pelo canto estranho
Dos meus medos
Por mostrar coragem
Das minhas verdades
Por fingir o mundo
Dos pensamentos certos
Por escaparem à linha
Soube de mim
Por não me ver - em lugar algum.

Fuga

Eu não soube escolher a resposta
Pra pergunta que não formulou
E não soube dos olhos aflitos
Que o contexto enganou
Fingi-me cega e surda
Sem entender bem o porquê
Talvez a vida o mandasse
E eu fizesse sem querer
Mas talvez, ciente de tudo,
Só quisesse esquecer
Da dúvida, do medo e da dor
Que formulam esse amor
Incerto e louco
Intenso ou pouco
Que sofro com terror.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Teima a fragilidade do cérebro

Meus olhos entreabertos queimam
pobre minh'alma delinqüente chora
vida suicida que quase morre
minha força sem luta se banha
meu amor que me lava a visão

minha fonte de inveja é o tempo
loucura encravada na carne do peito
me encarno em canções sem letra
deslizo dentre olhares descontentes

choro para lubrificar minha visão
rio sem pestanejar nem entender
sonho em pelado correr escondido

sou agora pobre de falas e rico de amor
tenho em meu coração loucuras
meu cérebro não se encoraja a sofrer

sábado, 16 de outubro de 2010

Tu-lirico

Seu gosto em minhas mãos,
suas asas em meus pés,
pesados tal que não,
conseguem alcançar a tez
macia e clara do teu rosto,
alçar vôo ao invés,
de parar e sentir teu gosto.

Mãos entrelaçadas,
olhos então vidrados,
palpitações aceleradas,
vasos dilatados,
vontades puncionadas.

Uma hora sei que falta assunto,
falta coragem, nao sei se consigo,
então te pergunto:
quer namorar comigo?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O vento toca deliciosamente os cabelos
Sei que poderia passar tempos e tempos assim
Na janela entre o céu e o véu
Fora e dentro de mim
Apreciando o sobrenatural a olhos míopes
Sem peso e sem dor
Ouvindo a doce melodia
Do cantar dos pássaros
Do bater de folhas
E da trilha que escolhi
Sentindo o calor emanar de meu corpo
Para aquecer o ambiente
Sentindo que estou saudável
Mesmo que doente
Transporto-me pelas nuvens de vapor
E sinto na água que me cobre
A delícia do amor
Estou aqui e não estou
Lágrimas se choram sozinhas
Junto com o sorriso que cresce
Mas cresce mais a energia
Que forte, me enternece.

Letras sem préstimo

Não escreva no ar
O que coloca como eterno

Há palavras que são poesia
E há palavras que são poeira
Que o mais leve sopro apaga

Tento recordar do que foi mesmo
A magia em que acreditei
E sonhar que foi o mundo real
Aquele que tanto amei

Mas depois que cessa a música
Percebo que foi apenas retorno de fantasias
Só porque eu enxergava nas ações
Mais do que eram

Eu vi a poesia
Você, a 'logia'
Pena, pobre cegueira
Deixou que sobrasse apenas asco.

Gostaria de acreditar que estávamos ali
pela vibração dos sons lentos
e pela luminosidade estelar
E que os jardins e flores
fossem também seu lar
Onde nos colocávamos
Somente a passear
Acreditando em novos mundos
Da vida que estávamos a cantar
Sonhos teus e meus
Todos no mesmo lugar
Só que não há magia para você
E acabou por ferir a minha
Ao me deixar de novo sozinha.

Não escreva no ar
Dizendo que o que houve foi terno

Há palavras que são poesia
E há palavras que nada dizem
Que vá além da superfície.

De novo dois

Malas postas à minha frente
A ditar o meu caminho
Guardados sonhos e lembranças
Cada um em seu cantinho
Memórias sem fotografias
Saltam das mudas mal feitas
Fico a remoer
Os carinhos e as desfeitas
Já não há laços
Nem broncas, nem cantigas
Partiram os abraços
E as verdades antigas.

Mais uma vez na estrada
Sem destino certo
Ou estrela almejada
Das luzes ao longe
Poucos significados
Sei de onde venho
Embora não saiba por que fui
As luzes me dizem que não estive só
Assim como os braços que amparam e aquecem
Mas não como os olhos que deixei
Que me derreteram e congelaram
Os olhos que ainda piscam na escuridão
Quando se fecham os meus.
Os olhos que me sorriram mais que o sorriso
E choraram mais que o coração
Pobres olhos sós
Donos da emoção
Estarão sós também os meus
Agora partidos, em solidão.

Baile ritual

Pichações e terror
Dão lugar ao amor
Posso sentir pelo balanço do soul
Sem amarras em praça pública
Onde não importam as roupas
nem os cabelos
Se o movimento está nos pés
ou nos joelhos
Somos estranhos, somos alguns
Amando o diferente
Sendo só incomuns
Danças ao Universo
Curtidas depois que o sol se foi
Iluminando a noite do bem
Nos unimos todos
Dizendo a quem vem
Que entre nesse mundo
Que dance também
Formando um ciclo
Um círculo, um circo
De gente do além
De transe em transe
Não estamos sós
Já não somos nós
Vemos horizontes
que a rotina não tem.

Experiência

Dizem-me ser a ciência dos céus
O modo de me fazer aprender
- Pena não vivê-las todas
Para que mais você possa saber.

Mas vejo de outra forma
Não quero esse poder
Como eu poderia
Sozinha, todas viver?

Para que eu quereria
Males e males sem fim
Só para poder dizer
Que mais eu sei de mim?

Experiências?
Que me sejam ciência
pela ciência allheia.
Não é sábio apenas o que semeia.

sábado, 9 de outubro de 2010

Rei das memórias

Não posso, não sei,

não quero mais ser rei,

se errei não quero mais,

seguirei sem olhar pra trás,

meu reino, meu tempo

cegarei ao olhar,

colher o que trás o vento.

Cegarei ao olhar pra dentro.


Chegarei sem olhar,

sem saber o que alimento,

isento de me explorar,

saudades do sentimento,

sentindo saudoso,

aquele momento.


Sem nostalgia ou prendimento,

sem o que fora outro dia,

senhoria do meu lamento

me faça perder a memória

depois devolva meu tempo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Voto

Falsa democracia
mentira cantada em carros de som
podre ideologia
Dinheiro e poder é o sonho bom
Poder que não merecia

Nada resolve, nada melhora
nada auxilia, nunca sincero
nunca, nunca sentiu o estômago estralar
Mente o debate que jura apoiar

Mente sobre democracia
manipula toda a verdade
impõe a necessidade do voto
obriga aos que não sabem e não querem saber a chance de sentirem a imoralidade da pressão e da lavagem cerebral que os porcos vomitam na sociedade que teme a mudança, teme o progresso, chora de fome e não sai de casa pra comprar comida.

Choro meu pranto em silencio
meu acalento é minha força
meu sofrimento é minha revolta
sei que se mato sou visto com maus olhos
ou vêem o mau em meus olhos...

Triste sociedade de morredores e matadores
todos sofredores...

Pobre inverdade

Triste, choro uma gota de amor
O pranto das nuvens me molha
Perco qualquer voz sem sabor
O raio do sol não me olha
Vige em mim a marca do labor
Morre antes do ventre o fruto
Maldita força nunca gera calor
Nunca sonhou, nunca viveu
Morre antes de sentir
Sofre antes de nascer
Em vezes nem nasce
Quando nasce é sem vontade
Gritos e vozes ecoam pela mente
Mente que mente quando pensa
Quando pensa, pois não pensa
Se pensa é a mentira que ama
Se ama é por falsa verdade
Falsa verdade
Falsidade

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Chuva

Gota por gota
Suspiro por suspiro
Dádiva que me tira todo o mal
As estradas brilham e se escondem,
Não é preciso pompa para que continuem vivas.
O valor está na essência
Que o tempo não pode ofuscar
Os ventos não podem levar
E as capas não podem alterar.
Os sonhos são tão reais
Quanto a intensidade das crenças.
Sorrisos, a trilha mais freqüente.
E se ouve a música, mesmo no silêncio.
Renovação, meu passo preferido.

Sobressalto

Nada de lábios ou olhares,
e sim do perfume que de ti emana,
cheiros parecidos, são milhares,
já senti um essa semana,
e me virei com expectativas,
esperando te ver de novo,
memórias ainda bem vivas,
um aroma que ainda sorvo.

Mas ao olhar, quanta decepção,
a moça sequer sonhava
a minha desilusão,
enquanto ria e acenava
pensando que era pra ela,
meus pensamentos já soturnos,
meu sorriso que agora amarela,
viro e saio, taciturno,
enquanto meu dia se esfacela.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sonar de um pensamento já fora da escuridão

Desvendo mistérios bem temidos
descanso em lugares escondidos
brindo com as palavras porcas
banho-me em linguagens mortas

Decido por gritar silenciado
sou louco e podre sem pensar
sou pobre e vívido sem notar
dedicado inútil ao deleitado

Pobres meus fracos pensares
vivem subnutridos de sobras
choro-me em lágrimas falsas

Como poeta sou falso amante
mesmo amante sou quem mente
minto o mérito desmotivante

domingo, 26 de setembro de 2010

Melancolia de estimação

De novo não encontro espaço para gritar
A força da dor sem a pureza de amar
Algemada em minhas torpes escolhas
Que o senso não pôde triar
Ódio do ódio meu
Esse irá me matar.
Sem forças para um suspiro
Sem ânimo para chorar
Qual casca vazia
Estou a me olhar
Acabou-me, acabei-me.
Sem poder pra levantar.
Perdida, sem rumo, sem lar.

À uma Brás sem memórias

Esqueço a luz
Encarcero-me
Jogo sobre mim a cruz
E aqui estão as almas sumidas
Penalizadas, não penadas
Louvando-me a morte
Como nunca em vida
Tiro de mim a cruz
Não é o fim que me conduz
Lá se vão as almas
Voltam pro além
Dizem que pra mim
Elas partiram também.
Morta eu fui.
Viva eu sou?

Veneno de Circe

Porcos chafurdando,
enganados pela contradição,
pela emoção e o instinto,
sinto muito, constituição.

Selvagens e pueris,
vis padrastos da alienação,
não mais acredito no que diz
o ditado da desilusão.

"Não lamento a coroa que perdi
Livrai-me deste corpo abominável.
Só aspiro, só peço a própria morte
Libertai-me da vida miserável."*



*Trecho do poema "Endimião", do poeta Keats.

Prole

É por raiva, e por ódio,
ou ainda por puro desprezo,
ainda saio daqui,
de onde me vejo preso,
mesmo podendo ir
no lugar o qual desejo.
Já não tem o meu respeito,
já nao quero mais ser igual,
comigo perdeu todo o direito
de dizer o que é ilegal.
Comigo já nao tem jeito.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Madrugada

Acordo sobressaltado,
mas aliviado suspiro,
quando te vejo ao meu lado.
Então eu passo os lábios
roçando no seu pescoço,
mãos hábeis deslizando
pela barriga e pelo dorso.
Meus dentes e sua orelha,
sempre atração fatal,
e com um sopro a centelha,
um pecado capital.
Você se vira e me abraça,
depois beija ternamente,
nossas pernas se entrelaçam,
outro olhar simplesmente,
que me faz sentir tranquilo
e me diz tudo que sente.
Me abraça e diz que ama.
Então acordo tristonho,
sozinho na minha cama,
tudo não passou de um sonho.

Porta retrato

Ficou gravado no papel,
seu olhos e seu sorriso,
liso, solto, raro céu
que remete o paraíso.

Que faço eu então agora?
pra te arrancar daí?
me olhando e me ignora,
e o tempo todo sorri!

Espero que seja eterno,
pelo menos a fotografia
que guarda tal momento terno.

Olharemos pra ela um dia
e a saudade um inferno,
eterna melancolia.

Donzela

Te invejo pelo sumiço
da minha respiração,
não há mais tanto viço,
nem tanta sonhação,
já perdi até a conta
de quanta conta perdi
por esperar sua aparição.
Uma ponta de saudade
de ti, minha inspiração.
E quando vierem eles,
disputar por sua atenção,
em cortejos infindáveis
de presentes e bajulação,
te esperarei na saída,
com um sorriso e uma flor na mão.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Chave

Eu achava que acharia.
Eu fingia que o fim via.
Eu acreditava que daria.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Da janela vejo...

As poças que refletem o céu,
refletem tambem meu pensamento,
isento de qualquer vontade.
Um suspiro e um lamento,
por preferir sempre a verdade.
Penso longe, passa lento,
o tempo escorre pela cidade.

desAtino

Não sei por que a lua controla as marés
Não sei por que tenho a gravidade aos meus pés

Se a história certa é a que sinto
E sou covarde o bastante pra esconder
Qual o texto em que minto
Tudo em que há para crer?

Não sei por que o sono não deixa que eu durma
Não sei por que me sinto só mesmo em turma

Se a natureza acompanha e guia
E me lembra da Força em meu eu
Por que não vem do vento a energia
E preciso também do mundo teu?

Não sei o que estou a fazer
Não basta ser eu pra entender.

Se a verdade foi aquela que escrevi
E a mentira tudo aquilo que não disse
Onde está a fala que perdi?
Viva em minha própria quixotice?

sábado, 18 de setembro de 2010

Sonheto

O que vejo da noite é neblina
As verdades que o sonho não quis
Mil desencontros da vida feliz
Que pensei não tornar-se rotina

Perdi do autor a minha sina
Aquilo que o fez grande juiz
Não as mesmas histórias que fiz
Dos tempos de amar ser menina

Pois de pequena meu mundo se fez
Tornei paradoxa a vitória
Cantei meu futuro mais outra vez

Derrubei da moral toda glória
Colori a estrada e a tez
Mas sei bem, não há fim pra história.

Pena

Vivo de acreditar na vida
Que os tempos uma vez mudarão
De novo não vejo saída
E percebo que corri em vão

Sem estrada, sem rumo, sem chão
Sobre céu e sob mar
Em minha simples solidão
Doces sons de vida

Apenas, coração.
As penas da emoção.
Apenas coração.
Minha pena.

Sem dó, não é pequena.

Pensamento

Sempre paro pra pensar
nas horas infelizes.
Sempre raro e devagar,
sem caneta e papel,
vindo de algum lugar
entre o inferno e o céu,
a entrecortar a inspiração.
Partilha com a ideia o véu
da sombria divagação
que sempre surge na cabeça,
antes de fazer qualquer coisa,
antes que tudo aconteça.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ÀDeus

O chão está onde o coloco
E deixo a vida sem teto
Para que o pra cima
Seja inalcançável
Ao menos uma estrada definida
Mesmo se em cima for embaixo
Farei do baixo um cisma
Se posso decidir.
Previsível que o caminho desvie
E para longe de mim se toque
Ouço antes que os sons alcancem
E sorrio das palavras não ditas
Mas até os saltos se dobram
Quando advinho o próximo verso.
Livre. Como o arbítrio.
Presa, como todo juízo.

Setembros (ao 12)

Das folhas do tempo
Belas primaveras

Após tanto sol
Finalmente me queimo

A chuva me transporta
Transforma

Das cinzas ao verde
Renasço.

f Valsa

Das pulsações, o ritmo
Como em sonho sem fim
Sem corpos, sem mentes
Em baile por mim
Da alegria de outrora,
apenas o sorriso do agora.
Terno, mas falso
Vestido de dor
Valsando sem sentido
Pelos tempos de amor.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Virginiano

Mais que rio de desencanto,
e se encanto, um calafrio,
pois por pura insegurança,
que eu me rio, qual criança,
a ouvir seu desvario.

Se me perco, tu me achas,
se das achas, brasa queima,
queima meu peito em pedaços,
de tão pueril que me lembro
dos nossos momentos escassos.

E é essa criança inocente,
que teima em brincar de esperança,
cansa a cabeça da gente,
que só pensa em lembrança
e só lembra do que sente.

domingo, 12 de setembro de 2010

Derivada

Estou no limite,
com 'x' tendendo a 'a',
as imagens delas se encontram
no eixo das ordenadas para dar,
quando dividos por 'h',
as inclinações da curva.
As notações são estranhas,
fazem confusão:
o 'h' é a diferença no espaço de domínio
que eu vivo a insistir:
essa diferença tende a 0!
E o que sinto é que não entendem
que 0 é diferente de nada:
enquanto o nulo não existe,
o 0 tem valor, não é 'nada'.
O que não se entende
é que a tangente descreve a inclinação
da curva aquele momento.
A fórmula que descreve a função,
mostra o encontro das duas linhas,
quando substituimos os valores
pelas coordenadas cartesianas.

Devagarções

Amarras juntando as mãos
firmemente no laço,
passa o tempo e então
me fazem esquecer que o abraço
nasce de dentro, e não
do braço, do beijo e da dor.
Cada espaço que ocupo,
nada mais é do que cor.

Nado, mas nada de praia.
Às vezes penso que a falha
está em nadar demais.
Outras acho que o erro
está em ouvir sempre os pais.

Amanhã já é outro dia,
outra ideia e outro ideal,
não farei mais o que faria
verder-me-ia para o mal,
o caminho sempre largo,
amargo, escuro e teatral.


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

deplorado ao deleite

enfastiado de circular desorientado
despido, aos trapos, sem vida
sofrendo por uns dois dias a mais
da vida que não é mesmo minha
destarte, de um suspiro à lágrima
do tormento ao motejo pérfido

canto num canto qualquer e nunca encanto
deploro-me no desejo de um deleite
finjo a uma felicidade forjada
mais motejo ao meu mundo manhoso.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

SinA qua non

Que eu sorria após respirar
Que das lágrimas me batize
Vez por vez e me renove
Que da paisagem surjam versos
Dizendo por fora o interior
Que do silêncio surja a música
Que o fôlego seja curto
Mas deixe que eu curta
Que as danças sejam eternas
Em cada segundo de inspiração
Que as dificuldades sejam internas
A cada momento de transpiração
Que flexível seja o corpo
Mesmo que não o seja a mente
Que mais confunde que alivia
As dores do nobre carente
Que as estradas sejam estranhas
Para que não faltem os tropeços
O que seria de minha vida
Sem os numerosos recomeços?
Que as faces sejam mil
Para usa-las como ardil
Que a natureza seja a alma
Que alimenta e me acalma
Que o amor seja base,
regra e rumo
Que as perguntas digam mais que as respostas
Que a fantasia seja real
Ainda que a verdade seja fantástica
Que a palavra seja o vício
Mais primitivo e voraz
Que lindo seja o caminho
E livre o pensamento
Que a eternidade seja
E que nada baste por si só.
Sina
Sem a qual nem aqui estaria
Sem a qual eu nada seria.

Sensatez?!

Cega de minhas visões de mundo
Cega do que julgo ser
Sem ver o que me pedem
Nem o que posso querer.

Abertos os olhos se fecham
Fechados a mente se abre
Sinto o poder do agora
E temo que tudo desabe.

Quem tenta a lucidez
Perde de novo o caminho
Não é minha esta vez
Pode seguir sozinho.

Não acho que é sensatez
Sentir o acontecer
Mas quem disse que alguma vez
Fui eu a escolher?

Segundos

Meio minuto pra pensar
No que posso escolher
Tento não duvidar
Será o que vai ser

A surpresa é grandiosa
Estranha eu posso ser
Sei que sigo o coração
É esse meu poder

Sorrir a toda prova
Eu sei me entender
Gosto de ser nova
Também não sei ceder.

Suspiros, palavras
Verdades antigas
Mudo meu mundo
Em poucos segundos.

Feche os olhos

Bem aqui eu estarei
A rimar sem nem sentir
Pra você eu mentirei:
- Já sei pra onde ir

A verdade que escondi
Há muito se perdeu
O sonho que pedi
Também não era meu

Ver seguir sem sentir falta
Dói demais mas não me mata
Toda prova do que fui
Está nessa fala chata

Não posso pedir que acredite
Mais no que sente do que no que vê
Fuzilaria em último olhar
Se insinuasse não ser o que crê.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Falso poeta

um poeta de pobre vernáculo
que copia da falsa cópia
apenas obras de nunca óperas
nunca cantadas nem deleitadas
nunca sentidas, nunca choradas

Pobre do falso poeta
que é cópia do falso veneno
que nunca intimida nem ama
não faz amor nem por deleite
não ama, não mata

Sofrimento derramado
espalhado sem pudor ou dor
sem fluência nem boas lágrimas
nem arrepia, não delicia

Janela de guilhotina

O silêncio me pressiona os ouvidos
É verdade que os sonhos estão próximos
Mas não os vejo nesse reino vazio.
Como que jogada no branco
Vejo luz, mas não definição
Vejo paz, mas não meu coração.
Deixei que se cruzassem as estradas erradas
Não passei pelos atalhos
Mas também perdi a longa caminhada
Para o sol ou para a chuva
A vista clara ou mesmo turva
Sei que os sonhos se abrirão
Após essa janela de meu coração
Apenas um salto e estarei do outro lado
Onde a mata é mais verde
E as flores mais sãs
Onde as fantasias são reais
E as pessoas mais irmãs
Mas algo me prende aqui
Hábito do meio caminho
Não sei onde devo estar.
Em cima da janela,
Olho para fora
Olho para dentro
Fecho os olhos, respiro
Meu santo tormento.
Círculos.
Ando e ando no mesmo lugar.
Desça logo, janela,
defina onde devo ficar.

Para a casa, a última lona

Deixo que caia
O único pranto que salva
Ao menos do ódio
O pobre coração

Cada lágrima de dor
Cada centavo de amor
Gasto com um sonho
Se perdem na ingratidão

Como pode haver tanta maldade
em um ser?
Como pode alguém só querer
causar desprazer?

Ouço que era uma brincadeira
De jovens sem o que fazer
Mas para mim isso é besteira
Não pretendo entender

O que sei é que foi abaixo
Um lar sonhado por meses
Destruído todo um esforço
Suado e sofrido por vezes

Vejo apagada a esperança
Nos jovens olhos de mel
De quem trabalha desde criança
E só tem sentido o fel.

domingo, 15 de agosto de 2010

Pára disso.

Paranóico,
paralelo,
parecido.
Paradigma,
para ti,
pára tu.
para-quedas,
para-raios,
para mim.
Só nao pode parar de amar.

Catástrofe

O tempo correu mais depressa
Mais do que foi possível acompanhar,
E caem coisas pelo caminho
dessas mudanças de ultima hora.

Agora que nessas andanças
se alcança mais do que pede,
Aurora te peço esperança
pois hoje minha força cede.

Um som estalido no ouvido,
e toca um tom já esquecido.
Um cheiro comum de nós dois,
uma velha música de um outro sabor.
Tudo já tão distante,
o ontem, um livro,
empoeirado na estante.

'Abra sua mente'
'Abra seus sonhos'
'Explore os sentimentos'
Sinta e pereça.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Bem-do-século

Era dia e a aurora a sorrir
Deixava vontades
Vontade de ir
Para a nova vida que nasceu
E sei que eras tu que cantavas
Aquele que era o sonho meu.
E então partíamos
A correr
Sem em nenhum momento saber
Qual a estrada do juízo.
O certo é que eu tinha e tenho
tudo que preciso.
E, junto de nós,
Com multidão ou a sós
Corre a vida
Cheia de prós.
O belo é tentarmos manter
Aquilo que queremos ser
Dos sorrisos puros
Aos beijos e abraços
Em nossa pele quente e fria
Com ou sem harmonia
O que importa é ouvir a melodia
Das folhas, dos ventos
De nossos próprios tormentos
Dissolvidos em gargalhadas
A melodia que fazemos
Instante após instante
Em nossa crença de que a luz
Estará perto
Mesmo que distante.
E a saudade só faz cócegas
Alardeando novas eras
Em que continuarás
A ser quem tu eras
Em que, de mãos dadas,
Crendo em gnomos e fadas
Pularemos a alardear
O bem que é viver
O bem que é amar
Talvez até chorar...
Apenas de puro prazer.
Oh, Toninho Álvares!
Parente de dia e mês...
Mostraremos como, além
das desventuras,
podem ser eternas também
as aventuras!
E que bom seria se viesses
a sorrir outra vez!
E conosco cantar,
em suas doces poesias,
as belezas da insensatez.
Abarcar a vida
louca e não sofrida...
E viver após viver.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

um riso perdido

Dedos que se calam
a nota nem nota que não é notada
nada se toca senão a vida
nem mais existe o tom do som
um violão desafinado
cordas quase rachadas
sorte quase perdida
sonhos quase matados
a morte em meus ouvidos toca
a musica que morre
o som que deixa de existir
o desespero que se cala
deixo de esperar e espero
canso de sentir-me no espelho
minha barba por fazer já é desleixo
meu rosto se esconde
não mais aqui fico
nem sei aonde
nem as pernas estico
não ando e corro
não canso e morro
meu suor é meu próprio sangue
de olhos fechados
sem perceber
de meus poros brotam uma lágrima doce

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dedos de lágrimas

Desgraça de amargura percebida no peito
sigo sem rumo e sem chão a qualquer lugar
sempre em frente sem abrir os olhos
mesmo que eu busque meu lugar perfeito
sofro a luxúria do sentido de amar
com o corpo aberto e a mente fechada
meio em canto comum com as mesmas ideias
sem ideal, sem ser real
mentindo pra mim até sobre mim
quando canto ou corro, sinto
quando fico e choro, sofro
não sou eu quando me escrevo
nem quem sou não me quer ser
no sofrimento de meus dedos
grito antitético noutro canto

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Durmo o medo meu

sopro que nem resfria nem me aquece
morre na pele o tato sem sentido
sem gelo seco nem fogo ardente
sem agonia nem bater de dentes

Fala calada que ouço o inaudito
Riso cantado sem nota nem tom
Por um sussurro grito por dentro
num respirar sinto alivio bom

Canto num canto sem voz
Sem vez aquieto-me só
Medo meu de um sono profundo
de num canto não mais me ouvir cantar

Trilha

A paisagem é inebriante
Mesmo seca em seus galhos e aromas
Mesmo rachada em sua terra e suspiros
Cada subida é um lance
Cada passo uma vitória
Sem destino certo
para cima
Onde o fôlego não mais alcança
Onde a estrada se fecha
Sem deixar pista nem brecha
Do que virá
Outros passantes desviam
Vão para algum lugar
Incerto
Incertas todas as metas
dos que estão a trilhar
Ritmo constante
Só não se pode parar
Cada descanso custa mais
do que se possa pensar
Ruídos vêm de todo lugar
Mas o foco se mantém
Não podemos desviar
Até que cheguemos tão em cima
Onde já não possamos respirar
Onde não vemos mais sentido
Em trilhar só por trilhar
Porque em cima nada há
pra declarar
Fincar bandeira? Acampar?
Quais as glórias?
Qual a lógica de lá estar?
É a mesma paisagem de sempre
Mas aquele não é o lar
Sem caminhos novos
que possamos almejar
Descemos
Descemos pelo mesmo lugar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Astro

Sinto a brisa da noite
E ouço a sua música
A paz estremece
As dúvidas retornam
Olho a imensidão
E lá está a estrela
Que me cobre de razão
Uma luzinha apenas
Em meio a escuridão
Me entorpece
E deixo de lado a solidão
Nunca fui uma estrela
Mas sei o que é estar só
Em meio a multidão.

Trânsito

Via marginal, asfalto ardente
pressa matinal, eu imprudente
louco confiante, meio infrator
teimoso, mato e morro sem amor

adiante meu sangue se escorre
pneus espalham meu derrame
dou um trauma por um traumatismo
quem me vê agora, não dorme

Sangue meu por valetas se escorrendo
meu corpo agora sem vida
mal percebe o asfalto que o queima
minha vida agora sem corpo

meu corpo ao deleite de meu sangue
não mais se incomoda
nada sente de dor ou prazer
apenas morre...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Torpor

Meu corpo cai suavemente
Na maciez de minha insônia
Finalmente o calor me toma
E mesmo a queimação agora agrada
Faço com que o tempo pare
E que nenhum movimento desperte
Susurros longínquos insistem
Mas não estou aqui
Aqueço-me languidamente
E o torpor me devora
Curiosidade somente
Ainda não chegou a hora.

domingo, 18 de julho de 2010

Éramos cinco

Sem estrela guia
Sem estrada certa
Sem perder um dia
A vida se descortinava
E sozinhos estávamos todos
Juntos
Estranhos para nós
Estranhos para uns e outros
A buscar a voz que não cala
Mesmo em seu silêncio.
O Universo cresceu
Sós, mas não a sós
Infinitos
Éramos cinco,
Éramos mil.

sábado, 17 de julho de 2010

Apenas um tempo

Tudo que eu preciso agora...
Tudo que preciso agora, é gritar o que vive abafado.
Soltar minhas convulsões.
Deixar de ser o escudo do mundo.
O escudo e o confessionário de todo mundo.
Preciso chorar sem engolir minhas lágrimas.
Apenas um tempo.
Preciso de um abraço confiável.
Entenda que sou forte o suficiente,
para entender que estou no meu limite.
Quero pegar alguma carona que me leve, leve
pra longe daqui.
Apenas um tempo, para que eu possa
respirar, para que eu possa viver .
Eu só quero.. respirar !

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Nas asas da madrugada

Prometi que não conversaria mais com a madrugada,
prometi que não pensaria sobre nada,
prometi que não quebraria mais minha asa,
nos becos por onde não posso passar.

Esqueci que não cumpro promessas,
esqueci que não posso parar de pensar,
esqueci que encontro a madrugada,
esqueci que minha asa, só é asa
para poder se quebrar!
Esqueci que os becos são meus caminhos..
Esqueci de lembrar que os becos, são
meus eternos caminhos.

Lembrei de tudo,
conversando com a madrugada,
por causa de uma asa quebrada.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Paciência

És ciência da paz
És a Paz-ciência
Toda a minha vida
Aguardo tua clemência
Lágrimas cruzadas
Berros apagados
Morte aos momentos
Tão afogueados
Paz, ciência
Odeio tua ausência!
Momentos detonados.

Gelo seco

A caldeira desfere farpas
O próprio fogo já se apagou
Agora, só sobra a água
Que o desaforo gelou
Palavras em sublimação
Sublime ação de orgulho
Olhos que se evitam
Ouvidos que fazem triagem
Os abraços distanciam
Coração revira a bagagem
Talvez em busca de mesmo mar
Somos dois ausentes
a vagar
A frieza prossegue
Sólida ou a vapor
O que marca a correnteza
Certamente é a dor
Sem saber como agir,
o que falar, o que sentir
Sem meu eu
E sem o seu
Amigos de curta data
Retornamos ao breu.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Indigente

Entornado em poções de desamor
do suor que de meus poros brota após dor
em minh'alma um puro gosto sem sabor
vida minha, eterno marco de labor

crescendo em campos destoados
sofrendo o escampo ensolarado
na mísera morte vem o corvo
que chora à espreita pelo corpo

vivenda despojada
improdutiva carente
vida minha obstinada
pobre, sou indigente

na noite um acalento
vejo meu sonho opulento
a morte me enobrece
minha dor quase desaparece
e4 e5
Cf3 d6
Bc4 Bg4
Cc3 h6?
Cxe5! Bxd1??
Bxf7+ Re7
Cd5++

E ainda haverá quem duvide
da imensa poesia
alfanumérica do xadrez


segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cobrimos Olhos Para Admirar

Pintamos em mil cores
o que em vida desbota
Esquecemos o resto
Somos uma torcida torta
Não vou torcer
Não vou apostar
Tanto faz o resultado
Glórias irão se apagar
As verdadeiras vitórias
Muitos as perderão
Ninguém irá premiar.
Fim de jogo.
Abrimos os olhos
De aquarelas às mazelas
Voltamos a reclamar.
Abrimos os olhos?
Quem poderá provar?
Talvez só estejamos todos a delirar.

Passo a página

Passo o passo
Passo a passo
Embora em minha vida
a poça possa
Penso e peço:
Passe.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Desequilíbrio harmônico

- Para baixo.
- Para cima.

- Amanhã.
- Agora.

- Luta!!!
- Paz!!!

- Sol.
- Chuva.

- Falado.
- Escrito.

- Resposta.
- Pergunta.

- Odeio-te!
- Amo-te!

Discordamos
E só assim concordamos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Minha lingua não tem papas nem papo
sou sincero e mudo
nada é tudo o que tenho e digo

Soldado Urbano

um soldado sem patente,
sem uma regra moral,
sem amor à quem pertence,
sem sonho ideal.

que um lírio perfumado arrancou,
de campos minados, sem senhor.

Suas historias de batalha
enchem os olhos de lagrimas quentes,
que escorrem navalha, no pulso,
puro sangue de gente

que pensa que o fim é logo ali,
e o paraíso: eu menti.

Se afaste da faca, se afaste da forca,
se afoito se parte, não deixa escolha.
se a noite caiu, se farte de tudo,
que houver no mundo.

sem um tiro que esquente
os pensamentos em profusão,
sem um coração que sente
aquela velha ilusão

que de velha se esqueceu que era a verdade,
que aquece os sonhos de quem dorme na cidade.

um soldado impotente,
sem um rifle mortal,
sem força aparente,
mas que cre vai conseguir

pois sabe que o fim é logo ali,
naqueles campos minados, de quem dorme na cidade.


segunda-feira, 21 de junho de 2010

Digite aqui seu título

Verso destinado a apresentar o tema,
algo meio depressivo de preferência,
escrito rápido e sobre coisas que o autor
geralmente não tem consciência.

Verso com anáfora,
às vezes sem sentido
que os tolos literatos
tentam ver explicação.

Verso bem versatil,
verso em prosa com o leitor,
prosopopéia do papel,
versado em rimas populares
sem alarde ou escarcéu,
e sem rima no final.

domingo, 20 de junho de 2010

Absoluto

A lua se afasta da terra,
e quando ela for embora
acabar-se-ão as marés,
o olhar perdido de quem namora
o passo mais leve dos nossos pés.

E horas e horas olhando pro nada,
orando pro nada, lágrimas nos olhos
por toda madrugada,
ainda bem que acabou.


A árvore centenária

Lá estava ela
Gigante e imponente
Às vezes verde
Às vezes só
E sempre linda
Duros anos
Grandes vidas
Tantas perdas
Tão sofridas

Lá esteve ela
Companheira de todas as horas
Cúmplice de vários momentos
Fortaleza inextinguível
Foi-se embora
A brutos golpes
Perdi aquela sombra
E os galhos e folhas
que me direcionavam o vento

Sem forças para evitar
Nem por um momento
Meu mundo é a minoria
Outras sombras
Outras folhas
E outros troncos
Desconhecem minha história
Marcada em anéis
E em anéis cortada

Restaram raízes
Queimadas
Talvez novo rumo se levante
E novos passos se inscrevam
Mas talvez as estradas se afundem
O sabor da chuva se perca
Os ninhos se desfacelem
As melodias cessem
E os sonhos prescrevam.

adaf - ed - sotnoC

Os cabelos não são como o sol
A pele não é como a neve
Sem olhos de céu ou mata virgem
Sem florestas e sem castelos
Sem príncipes e seus cavalos
Sem bruxas ou madrastas
Sem heróis
Cem vilões
Nem princesa, nem camponesa
Aqui e não distante
Agora e não há muito tempo atrás
Grandes pés
Maçãs verdes e não vermelhas
Distância de rocas
Alergia a tapetes, mesmo os voadores
Carregando suas próprias feras
Nem do ar
Nem do mar
Sem terra
Sem fogo
Nem toda aquela beleza
Nem toda aquela pureza
O avesso da história
Sem a passiva natureza
Nada de final feliz para sempre
Pois a felicidade talvez acabe
E, o final, pode ser que não exista.

sábado, 19 de junho de 2010

Matinée

Pelejar pra acordar cedo,
tomar café lendo revista.
tão sem pressa, eu sem graça,
vendo a fumaça subir,
achando graça do que lia:
o senado vai ganhar mais.

Tanta gente nesse carro,
tanto sonho pra sonhar,
no balanço, eu descanso,
não me canso de olhar
os prédios e as pessoas com sono.

Tudo está no lugar,
até que haja pressa.

Escrever é preciso

Tenho que sentir, pra escrever,
sou escravo, sou alma
penada que tenta ser
individuo coletivo, com mais calma,
paciência e o que for
suficiente pra ciência.

Cidadão da selva
de pedras corroídas e gastas,
tanta guerra pelo mundo,
tanta guerra em mim mesmo,
tanto medo oriundo da fé.

Mas ainda assim, tenho que sentir,
pra escrever é preciso,
consentir minhas mãos a mover
decretar um inciso, permitir,
pra tentar ir além do comum,
como um, ou com quem
quiser ir com os cinco.

Escrevo. Escravo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cemitério de ideias

Texto em prosa de buteco,
ou em verso de embalagem,
mais é texto quanto poema.
Uma viagem num, ou noutro tema,
que tema não sair da cabeça,
escrevo aqui antes que esqueça,
ou pereça, ideia fraca,
que de nada adianta lutar,
espernear e tentar correr,
é uma viagem, sem volta,
pro cemitério.

O quinto poeta

Sou habitualmente um escrevedor de prosas
E também um homem que lá fora vive
Apenas terminando linhas e mais linhas subsequentes
Minha poesia se restringe à música cantarolada
Ao amor de meu amor
Não ao que faço
Definitivamente, não ao que sou

Sou leigo de rimas
Mas quase especialista em conectivos frasais
Para minhas longas e improdutivas teses
O grafite se inflama em meus dedos
Quando tudo podia ser dito em simples versos

Pontos finais, vírgulas e travessões
Uso de tudo que a gramática criou
Mas os homens não o percebem
Então, ficam encantados com um texto ou outro
Atribuem a mim um certo dom de escrever
Quando na verdade está tudo no regulamento
E na prática religiosa de suas leis.

Pois bem, poetas
Venho-lhes com a mais infantil intenção de atrapalhar
Obrigando-lhes a uma óbvia prosa
Nesses falsos versos
Pois meu reino é de outro blog
E minhas blasfêmias também

Poetas de Schrodinger
Nome estranho e um tanto ridículo
Tal qual sua mensagem subscrita
Mas deste instante em diante aqui escrevo
E me vendo entre escrevedores
Considero-me em família, e agora são a minha família
Tomo-lhes o brasão do quinto poeta
E me publico para o grande julgamento em praça pública.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Saudade

E ela sempre voltará.
Os desejos consumados
ajudam apaziguar.
a paz, o que eu preciso,
precioso abrigo escondido em algum lugar.

E se me pedes pra voltar,
sabe que não sou de nenhum onde,
eu não sou de nenhum quem,
talvez seja alguem que esconde
pra chorar por algum ninguem.

Talvez seja alguem que sinta
o cheiro de perfume do ar.
Rarefeito efeito do raro:
o ar é feito pra poder voar.

Mas que ela volte e não me ache em casa.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Nômade

Somos pedaços caídos no chão,
somos somados sem separação,
soldados armados novatos ou não,
somos criados da criação.

Deserto dos dias de tédio,
de certo por causa da areia
entrando nos olhos abertos,
tentam ver alem das miragens,
tentam ver o caminho certo.

Urubus em procissão fúnebre,
ondas de calor da areia saem,
secam meu olhar lugubre,
caminhante, errante, solitário.

Procura-se uma guitarra

A Palheta se apaixonou pela Guitarra,
não era amor de turnê.
Ajudava em silêncio compondo
algumas músicas, letras simples
que a Palheta não sabia fazer,
mas a Guitarra parecia ter tanta facilidade...

Crueldade, não daria certo.
A Palheta sabia, mas não custava tentar,
ou talvez custasse demais,
e isso ela não sabia.

Não era, não foi e nunca será
amor de turnê.
A Guitarra trocou de Palheta.
A Palheta nunca trocará de Guitarra.
Guitarra toca só, Palheta não faz som.
A música nunca mais será a mesma.

A Palheta agora ouve de longe o som,
enquanto procura por outra guitarra.
Custou e ainda custa demais.
A Guitarra continua tocando,
em amores de turnê.

Começo

Estamos cansados demais para recomeçar,
para começar.
Paramos na metade sem ter conseguido
dar início.
História sem começo não significa
história sem fim.
Fim é muito forte para uma
história incompleta,
de páginas arrancadas, ou melhor,
talvez sem páginas.
Páginas que só podem ser lidas
por seus próprios personagens,
são 'segredos de liquidificador'.
Ninguém viu, ninguém ouviu,
ninguém assistiu, ninguém escreveu.
Somente os donos do segredo sabem
dele por completo.
O resto, é imaginação dos demais.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

lágrima de sol

Em morte ao cansaço
sem vida sem sorte
vibrando a saída
vivendo a despedida
querida e sonhada
desejada e sofrida
quase mato a madrugada
meio durmo o dia morto
muito choro ao meio dia
e de prazer à meia noite
cresço na mesma altura

morro e ainda vivo
corro e ainda morro
vivo correndo da morte
morta minha vida
viva minha morte
corro com a vida
morro quando corro
corro
vivo
morro

sábado, 12 de junho de 2010

Sinaleiro

Já à distância
Meu coração se angustia
Tenho que parar
Esse não é meu dia
A abordagem é cálida
A resposta é que é fria
Fico aturdida
Não me deram essa direção
Não é tão simples dar a mão
quanto escolher uma mão
Direita
Esquerda
Pobre ilusão
Pobre coração
Pobre...
Engreno marcha um
Hora de seguir
Deixar a dor para trás
Encontrar para onde ir
Olhar para outros daqueles olhos
E saber como agir.

Foice! Foi-se...Não vai mais ser?

Todos de branco
Alguns, sem cor
Rodeiam um ser
Sem muito louvor

Estudos sem fim
Risos do além
Sem considerar
Que ele era humano também

Pulo a cena
Não é justo assim
O que faço ali
Tão longe de mim?

Olhares perversos...
Porque estou com máscara
Ou porque estou sem máscaras?

Rostos e histórias
Mãos e suas glórias
Rostos sem corpos
Mãos sem vitórias

Sob o cheiro amargo da dor
Lágrimas aos olhos
Olhares perversos...
Não entendem meu amor

Foice!
Foi-se um ser
Não vai mais ser?
Olhares, olhares sem nexo.

Ela sorria e seguia

Ela sorria e sorria
Tinham certeza de que sabia
Qual o segredo da vida
E o lugar pra onde ia

Ela sorria e sorria
E alguns a julgavam louca
Que saía sem responsabilidade
Que olhava o mundo sem maldade

Ela sorria e sorria
E a julgavam digna de pena
Porque via o mundo ao contrário
E em tudo uma harmonia

Ela sorria e sorria
Mesmo depois das lágrimas
Mesmo durante as quedas
Sua estrada era a alegria

Ela sorria e sorria
Gostava do diferente
E tentava dizer ao mundo
Qual era sua filosofia

Ela sorria e sorria
Embaralhava as regras
Misturava as palavras
E brincava de poesia

Ela sorria e sorria
Amava demais
Sonhava demais
Sempre uma nova melodia

E ela sorria e seguia
E nem sabia pra onde ia
Sua vida era uma surpresa
E a felicidade era seu guia.

De mente pra alma

Pense o que eu penso
Diga o que eu digo
Aceite o que eu falo
E só terá toda a minha irritação
Concordância não irá me convencer
Aceitação não vai me vencer
Só o pensar me traz emoção
Toda vez que disser sim
vou dizer não
Passividade não me conquista, coração.
Faça perguntas e sossegarei
Dê-me respostas e jamais calarei.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mesóclise

Precisar-te-ei-me de ti,
aqui perto de mim,
mentindo acalentos,
momentos que senti.
Precisar-te-ei-me,
para sempre que pudermos
estar no meio de nós dois.
Amar-te-ei-me no preterito
e no futuro, indicativo de paixão,
amar-te-ei-te com sofreguidão.
E se faltar avidez ou tesão,
deitar-te-ei-mo-nos, sem frescuras,
enrolados, os dois, no chão.

Lembranças esquecidas no chão do quarto

Comprimidos comprimidos
contra o céu da boca.
Seus cabelos compridos
são o céu da imaginação,
o pensar dividido
entre o pecado e a salvação,
de tão marcado que não
hesita duas vezes,
e já despido, se espreguiça pelo colchão.

Perfume perfeito,
feito pra durar,
na imaginação do garoto.
Prelúdio do intenso
drama noturno,
abrandado pelo insenso,
forte e entorpecente,
apagam o libido,
o imoral, o indecente.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sorrisos...só risos

E os risos cobriram rostos
Cobriram épocas
Cobriram datas
Curtiram o vento
Curtiram a vida
Viraram o mundo
Viraram os sonhos
Vieram às almas
Que sentiram nos corpos
Os risos quentes
As gargalhadas infindas
Os sorrisos doces
Aqueceram corações
Iluminaram estradas
Indicaram caminhos
Escolhi o meu
Quero rir para sempre
Quero fazer rir
Gosto da beleza do humor
Gosto de sua natureza
Embriaguez sem tristezas póstumas
Assim, é delicioso viver
Só risos...sorrisos.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Poesia matemática

Silencio quente da noite,
olhos vidrados e vermelhos.
enfrento todos meus inimigos
nessa tela de espelhos.
sigo seu simples conselho
de seguir meu prórpio caminho,
mas não acha que sozinho
vai ter mais estrada pra caminhar?
Não acha que eu preso nessa loucura
a cura vou procurar?
Escura face racional,
face poética da ternura,
se fundem nesse algoz sentimental,
que o tempo todo me tortura.

Juízo de imparcialidade

Há de se interpretar
sem rol taxativo de fato
da razão meus olhos desato
sei não ser sensato

sem ser real nem parcial
pode minh'alma impetrar
em termos gerais obstar
a sentir o moral sentido

sem prejuízo ao temor
calo meus olhos da dor
com poder para ser
dou de presente o vencer

mascarada a vergonha que sinto
resguardo e nunca desminto
por triste que sou eterno pecado
muito sinto o monstro ao meu lado

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Filmes que me marcam

Arrecado sorrisos mortos
arranco sofrimento falso
faço chorar minhas lágrimas
faço rolar meu sangue em veias
sinto o pulsar de meu peito
choro sem perceber
triste de quem comigo não sente
aos prantos e gargalhadas
sofro e amo por migalhas
cresço e volto a ser criança
nostálgico volto a chorar
e outra vez, por medo, sorrir
de um susto volto a mim
com os olhos entre dedos
quase não olho
quase me molho

desligo a tv
agora posso dormir...

suicido da morte pra sentir a vida

Quando corro não chuto
quando chuto giro
quando pulo sempre volto
quando caio só, levanto
quando calo me lamento

quero colo pra dormir
quero água pra ter frio
quero vento pra sentir
quero algo que sumiu
quero vida pra gastar

quem me disse pra sonhar?
quem chorou à beira do abismo?
alguém viu alguma lágrima rolar?
alguém sentiu algum coração bater?

domingo, 6 de junho de 2010

Não consegue ser feliz sozinho
acaba exteriorizando a culpa.

'Mulher não presta'
'Homem não presta'
'O amor não presta'

Ao invés disso tente se reconciliar com você mesmo.

Hai-Kai de partida

Meus amigos são
Eu os amo e libero,
meus amigos sãos.

Luta contra a luta

Ganhar não é preciso
O importante é competir,
meu bem
Só assim vale a pena seguir

Mas eu não quero competir!
Por favor, eu não posso partir!
Eu já sei para onde quero ir!
Não quero brigar para ganhar minha vida
Não quero brigar para ganhar o jogo
Não quero jogar
Já disse que estou fora do baralho
Já disse que não quero ser peça de nenhuma guerra

Mas, minha querida! É importante competir!

Deve ser porque isso é o normal para acontecer
Desde o início dos tempos
Mas nunca pude ser normal de verdade
E não é agora que quero ser!
Não posso jogar.

O importante é competir?
Ponto para o leão!
O alce se foi, mas fez o que era importante.
Ponto para o lobo!
O cordeiro se foi, mas tentou na briga.
Ponto para a tartaruga!
E o coelhinho perde o ego para a moral da história.

Mas nada disso faz sentido para mim.
Eu não sou assim.
Acabo entrando em jogos que não quero jogar
E se por acaso recebo méritos
Também recebo acusação
Mas eu não escolhi aqui estar!
Eu não quis participar!

Talvez por isso eu não possa
vencer a seleção
Talvez proteja demais meu coração
É que só quero viver
Sem balas
Sem bolas
Cruzando com raiva o céu
Sem xeques
Nem mates
Pouco amistosos
Jogados ao léu

Não fui feita para isso
Não gosto de brigar
Não gosto de lutar
Não quero ir para guerra
Mesmo que seja para ganhar

Esse não é meu sonho
Esse não é meu mundo
Competir é ato histórico
Mas não tem nada de profundo.

sábado, 5 de junho de 2010

Like a rolling stone

Era pra ter sentimento
em tudo que eu faria,
era pra ser insensível
e não perecer.
Era pra ser de um jeito totalmente diferente do que é.

E agora o que eu tenho?
Bob dylan tenta me responder,
mas ele é mais um idiota,
quem se importa se eu me esconder?

Era pra vir de dentro,
Era pra ser intenso.
Mas eu não tenho nada lá,
eu nada sei, nada sou, nada penso.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Conversei com as Moiras

A morte existe, o morto não,
o corpo nada mais é
que um pedaço de pecado,
largado na imensidão.
O morto existia,
antes de morrer,
depois da morte
é como a terra,
e com sorte, será ela.

O morto vem depois do fim,
assim como voce, pra mim,
Ele escapa para a eternidade,
vai sem ter idade,
é pra sempre, ou não sei,
pois quando fui
não voltei.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Apito final

Aquela bala não era minha, mas parou em mim.
Sempre pensei no que pensaria na hora da morte.
Só conseguia pensar que estava morrendo.
Boca seca, o ar não chegava aos pulmões.
Mãos geladas, sangue no chão.
Estava com frio, precisava dormir.
Ouvia som de sirene se aproximando.
Olhos assustados me observavam com pena, medo.
Estava ficando escuro demais, mas deu para
notar que finalmente tinham chegado.
Abri os olhos acordada pelo som
alto da sirene e com o pedido do jovem médico.
Ele não queria que eu dormisse, mas eu estava
com frio demais para ficar acordada.
De alguma maneira eu sabia o que ia acontecer.
Ele e os enfermeiros já tinham
feito o possível, minha morte não seria culpa
de ninguém ali dentro, algo familiar em
seus olhos não me deixava ficar sozinha.
Acariciava minha cabeça, tentando olhar
discretamente minha temperatura,
como um amigo, um irmão preocupado.
Disse para ele que estava tudo bem.
Ele disse que daria tudo certo.
Estavamos na verdade tentando
nos acalmar, nos enganar.
E os meus amigos ?
E minha família?
Recebi a noticia que já estavam todos
no hospital, me esperando, mas eu
não veria ninguém e sabia disso.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Eu estava morrendo !
Tudo passava pela mente agora,
queria ver todo mundo ao mesmo tempo.
Queria visitar vários lugares, dizer tantas coisas,
mas meu tempo estava acabando.
Pelo menos não fui embora sem andar de ambulância.
Cheguei no hospital, começo da contagem regressiva.
Olhei para o médico, aflita.
E ele adivinhando minha pergunta respondeu rápido
que eu não iria morrer, segurei sua mão e o
livrei de qualquer culpa.
Tudo escuro novamente.
Agora, eu 'ouvia' um apito constante.
Desfibrilador .
Cinco...quatro...três....dois....um..
Cinco...quatro...três....dois....um..
Cinco...quatro...três....dois....um..
Um médico em silêncio.
Uma família na sala de espera.
Eu dormindo, ao som de um
apito constante, final.

Para meu monstro interior

Gasto folhas para você
Gasto ideias para te escrever
Não ganho nada com isso
A não ser um certo alívio
Por não te compreender
A cada passo meu quem mexe é você
A cada berro meu quem me fere é você
A cada grito de susto quem me surpreende é você
A cada longo suspiro quem eu amo é você
A cada dor que sinto quem me entende é você
A cada momento solitário quem me completa é você
A cada questão de amor mal resolvida quem me prende é você
A cada urgência minha quem justifica é você
A cada sonho meu quem me leva em frente é você
A cada tristeza minha quem me faz chorar é você
A cada pensamento meu quem intromete é você
A cada sorriso meu quem me faz fingir é você
A cada promessa minha quem me faz cumprir é você
A cada romance meu quem impede é você
Você que não é nada, mas é tudo
Minha alegria e motivo para tristeza
Minha companhia e motivo de avareza
Como posso ser assim?
Tomada por um monstro que pouco tem de mim?
Só sei que ao mesmo tempo que fere e mata
me eleva e faz viver
Já não posso sorrir
Já não posso chorar
Sem que sinta você
Você sou eu agora e nem sei a diferença
Nem como foi que diagnostiquei semelhante doença
Quero sonhar meus sonhos
Mas não posso te esquecer
Acho que nunca pude escolher
Só há uma alternativa possível: viver
Um corpo morto em um corpo vivo
Um mistério em um enigma
Mil vidas numa só
Um Universo em simples matéria
Uma constelação
Um jardim
Uma resposta
Mais de mil perguntas
A verdade
A solução
A tristeza
Minha união
Onde é que está virgem coração?
Meu mundo não quer me acompanhar
E fico escrevendo só a pensar
Em como seria
Se eu estivesse aqui sozinha
Sem que fosse você a escrever para você
Para que eu pudesse dizer sem me controlar
Revelar sem interromper
Nem que para isso com você precisasse romper
Mas sei que não dá
A história vai continuar
Afinal, você sou eu
E, minha verdade, há muito já morreu.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Falando

Falar sozinho não é complicado.
Falar e não ser compreendido é insuportável.
Falar sem dizer nada é não praticar a ação do verbo.
Falar sem verdade é não sentir o que se diz.
Falar sem pensar...talvez seja falar.
Falar por falar.
Quem fala sozinho é louco.
Quem deixa de falar por falta de ouvintes é tosco.
Quem não fala por medo é oco.
Quem fala demais sem medo é tolo.
Quem fala e fala é falante.
Quem fala e abafa é constante.
Quem fala e escreve é viajante.

Tudo bem ?

Momentos felizes se vão
com a mesma facilidade que chegaram.
Se vão, ou nunca estiveram aqui?
Talvez tenha sido ilusão.
Quem sabe eu já sabia que era.
Quero dormir, acordar quando
tudo estiver melhor...
Será que vai melhorar?
Posso tentar deixar tudo bem,
ou seria melhor fingir?
Não dá, sangra demais.
O vermelho vivo do meu sangue
cala minha comodidade,
enquanto sai, lento e decepcionado.

Arquivado

O que ficará?
O que fiz, o que pensei ter feito,
o que farei ou o que penso em fazer?

Olho em volta.
Crianças brincando de pega
ou fugindo dele?
As armas são de brinquedo,
ou apenas brincam com
a pequena idade de quem às tomam?

Quem ajuda, quer ajuda?
Quem anda, quer correr?
Quem vê, pode relatar?
Da queima de arquivo
não vamos falar,
apenas arquivar.

das gentes o melhor.

Ideias ideais,
ideais induzidos,
eu quero mais ideias,
quero demais
tais rascunhos proibidos,
entender a lógica da fé,
matemática pura,
mais é mágica até
descobrir que era loucura.

Ideal é a loucura
que nos deixa de pé,
criatura ansiosa,
que atura a saudade
se ser quem era antes,
outrora era alguem,
agora espera por ele
sem a qual não vive sem.

Fugi com o circo

Te pego no alto
do teatro sem roteiro,
no primeiro ato,
asbtrato, corpo inteiro.
vago espaço, sem ensaio,
eu saio e você vem,
se você não vem eu caio
na boca do povo de novo,
esperando intervenção divina,
pra conquistar aquela menina.

Saimos escondidos então,
pra comemorar o pedido,
de uma nova demissão,
permissão pra viver iludido,
acreditando que a canção
sempre acalentará o perdido.
Que se perde toda noite a procura do dia,
que compra seus sonhos de manhã na padaria.

Transe

As calças dobradas,
os pés dentro d'água.
o olhar perdido,
o frio sentido,
o olhar não sabe voltar pra casa mais,
e agora já está anoitecendo.

Corpo em transe,
mente distante,
transam os pássaros
encima de nós.

Os peixes beliscam
as pontas dos dedos,
mordendo meus medos,
memórias dos pés,
por onde passaram,
a saudade fica,
se saudadifica,
fica mais perto do coração.

Lança

Os conselhos que me deram escorrem.
Morrerei assim, com uma lança de amor fincada no peito.
Retirar só me fará morrer mais rápido
e o buraco, o sangue que escorrerá por mim,
só me trará doces lembranças.
Decidi deixar a lança onde está, não foi um lance.
De que adianta tentar mudar algo imutável ?
Tento sair de sua volta, mas vejo sua imagem
em todos os olhos, em todos os olhos.
Nenhum com seu perfume.
Nenhum com sua presença.
Dizem que nunca vai me amar.
Mas meu amor é teimoso, não é egoísta,
quer sair e viver por nós dois.
De que adianta ter outros rostos,
se o seu é o único que quero admirar ?
De que adianta outras músicas,
se é o som do seu violão que embala
meus sonhos ?
É a sua foto de olhar distante
que me toma horas.
É a sua doce inocente malícia
que gira a lança cravada em meu peito.
Não acabará.
É uma lança, não foi um lance.
Se ter valor é fingir que nada sinto,
estou oficialmente dispensando valores.
Eu quero você!
Valores, moral, opniões...que se dane tudo.
O que realmente me vale é ver você
contra a luz do sol.
Sentir o sangue quente correndo pelo meu corpo.
Poder passar a noite em claro, só para te ver dormir.
Poder te tocar.
Sentir seu gosto na ponta da língua.

caracteres

Pra viver na abstração
sendo paralelo à razão
sangrando a imaginação
pra entender a verdade

a verdade é relativa
a certeza é abstrata
a fé inabalável é fé
nada é real, verdade

quando não sabe
ninguém é certo
não há certezas
boas inverdades

basta crer
julgo a fé
não ter fé
só certeza

negar
viver
sonho

vivo
nego

sou

eu

Incerteza relativa

Penso em deixar de pensar no pensamento
não consigo me esquecer de tentar lembrar
mesmo assim não lembro
ainda assim continuo pensando
julgo não mais julgar
nem me julgar
jogo com meus devaneios
me pego em jogo de juízo arbitrário
não sei se sou certo
não sei se quero ser certo

ideologistica

Ainda que meus pés não toquem o chão
mesmo que meus dedos não se arrisquem
ainda que minhas lágrimas se sequem
mesmo que minha voz rouca se cale

grito com toda a minha força
choro todo o rio do meu corpo
raspo meus dedos no asfalto quente
corro sem pensar e sem respirar

se vou atrás de um sonho qualquer
se quero um dia não me esquecer
minhas raízes, minhas unhas sujas
o gosto da terra molhada
o cheiro da chuva caindo

Não sei quem eu sou
mas nunca me esqueço de quem eu quero ser

Velho

Um desejo enterrado
meu sonho perdido
crio chances mortas
creio em bocas mentirosas
olho com olhar cálido
sinto um corpo trôpego
reclino a poltrona
acomodo a coluna
penso em não mais pensar
quase durmo
sei estar acordado
sem forças soluço
nem consigo chorar

não consigo viver
não consigo morrer

Sentenciar sentido.

Amanhã será o reflexo de ontem.
Hoje é apenas intervalo de ambos.
Como ou qual será meu 'flash back'?

Vejo fotografias e assisto pequenos vídeos
em minha mente, que arrancam de mim
sorrisos de lembranças, saudade.
Reflexões sobre o que já foi pedido, vivido.
Nenhuma lágrima, são boas recordações.
Passaria novamente e principalmente,
gravaria com o mesmo apreço.

Eu e o destino, quem é dono de quem?
Terei que esperar a martelada final de amanhã.
Sou ré, ouvirei minha sentença calada.
Não será um julgamento doloroso.
Talvez nem seja julgamento,
apenas conclusão.
Fim de tudo, não dos tempos.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Um dia é da caça...

Sob os pés repousa
a verde face da terra,
mansa, calma e tranquila
em contraste com a guerra.
Tiros ecoam na vila,
saio de casa com pressa,
já mataram meus amigos
já roubaram o que interessa.
O ar já cheira perigo,
atiro em dois e os mato,
no mato busco abrigo.

...e o outro do caçador

o tempo corre demais
pra eu pensar em agora,
em aqui, e vejo tudo imenso,
sem senso de direção,
é apenas um sonho, eu penso,
pesadelos de sensação.
As mãos grandes e tortas,
dedos grandes e caleijados,
a face palida e morta,
olhos vermelhos, dilatados.
E a respiração ofegante,
pés de sangue manchado
e o movimento incessante
de um fugitivo caçado.

domingo, 30 de maio de 2010

Cínico

Me falta mais do que posso ter,
ser o que mais eu não gosto,
e se encosto em você
me provoca arrepio.

O que me falta eu não tenho,
o que não tem eu crio,
se voce não vai eu venho
pra conversar sobre o dia.

Se falta entretenimento
sobra revolução,
se da oração me alimento,
é porque creio na salvação
da alma, das asas, sustento a imaginação,
e o garoto sem nada quer ser
o centro da atenção.

E o garoto sem nada
não quer ter,
pela estrada, talvez sim,
não que ele diga pra mim,
apenas sei porque sou
como ele, ou dele o que restou.

sábado, 29 de maio de 2010

Psicho de Lia

Lia olhava os lírios,
lia muito, sem parar,
era coelho, com pressa,
passando sem cumprimentar,
de vez enquando consulta
o relógio e sorri.
Lia sabe que ali
mora um bom coração,
quem me dera ser como Lia,
reconhecer a feição,
conhecer tudo e todos.
E no jogo excessao,
Lia era a favorita,
Jogavam tres de cada lado,
-esses são excessão-
o juiz jogava sentado.
Era muito escuro pra ver
o que Lia fazia,
mas dava pra entender,
que a vida era vazia.
O pote sem nada era cheio
de ar fresco e feliz,
vaLia, pra longe daqui,
valia quinhentos dólares,
no antiquario da esquina,
porque, menina, sorri?
Só lê anuncios da TV,
Lia não pode ser feliz.
Lia não sabe escrever.

Nuvens idiotas

Quando sou, não sei,
quando sei, não acho,
quando já achei,
tremo as pernas
e me escondo por baixo
das coroas funebres,
de dentes de leões e cravos,
de pequenos emaranhados de pensamentos,
escravos, livres por dentro,
marcados pelo meu julgamento.

Felicidade é uma palavra,
outrora foi um lugar,
uma pessoa, uma memória,
outrora deixei de buscar
outra aventura sem historia,
outra hora sem luar,
nuvens idiotas...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Insurreição

Cápsulas prateadas
que iluminam, num clarão, a noite,
saem pessoas encapuzadas
de onde eu não sei
pra começar o açoite.

Não ficarei pra ver,
nem terminar o que comecei,
tente entender, meu bem,
o problema não é com você,
o problema não é com ninguém.

E sentado em salas escuras,
cabelo branco e charuto,
escuto as notícias e surto
de malícia e ira puras,
'tenho uma missão pra você'.

Você, meu anjo sem asas,
não impedirá que aconteça,
esqueça e fuja de casa
comigo antes de ontem,
pra que seus pais não acordem.

Aquariano

Mero deslize
de mãos descuidadas,
por entre seus lábios
e costas ensaboadas,
e o cabelo molhado
derretendo em minha mão,
mãe dos filhos que não tenho
devolva meu coração,
amarrado, sem faltar pedaços,
pedaços de decepção,
tão cheios de espaços,
tão cheio de solidão,
que esqueço em seus braços,
no banho, na memória
desses momentos tão escassos.

Ao terceiro dia

Volto com outros delírios
guardo mais novos pecados
preciso ser ressuscitado
se quero perder o martírio

vivo em corações desamparados
ouço gemidos, dores e preces
pedidos que até eu queria ajudar
sonho que é meu sonho poder realizar

por mais que a pedra acerte a água
ela nasceu pra ser água
não morre nem chora, nem fura
só se move e volta a ficar parada

Diário semanal

Na semana, no tumultuo
onde guardo a solidão
quando chega sexta a noite
a boca sente o coração

dentro do peito ansioso
por sentir o cheiro gostoso
nos olhos em câmera lenta
uma imagem que me acalenta

o problema só é tempo
que eu quero rápido e lento
por mais que eu queira quieto
mais a segunda chega perto

Mais uma vez do peito
volta o gosto de solidão
que só sabe atormentar
o meu velho coração

§1º

Pensamentos impuros
mente semi-aberta
cabeça vazia
sem sorte pra nada

deixo um copo meio vazio
derramo em mim o resto da garrafa...

§2º

Não tenho brilho
não quero dinheiro
não espero, me viro
não corto o cabelo

Sem que eu saiba

Preciso parar de me esquecer
dos dias de sol em que espero chuva
das noites ao relento que lembram orvalho
do som dos passos pelas folhas secas
de um sonhar vazio sem querer dormir

Desejo deixar de não lembrar
de olhares vazios sem rumo
da voz calada ainda na boca
meio sem som, quase sem assunto

O que me faz feliz me faz crescer
o que não me me faz bem às vezes
até deixa de existir se puder
às vezes me deixa... sem existir.

§3º

Nada penso sem escrever
nada escrevo sem dizer
nada digo sem pensar
nunca penso...

Um bom filme

Ouço o som da pele
sinto o gosto do cheiro
grito cousas insabidas
me aperto de beira em beira
se estou só, não vejo
só o filme que tudo entendo
deixo de viver pra sonhar

asfalto

Com meus pés se queimando
o asfalto enfumaçado
meus dentes se rangendo
ninguém ao meu lado

sem companhia e com ousadia
caminhando sem rumo
com medo de voltar atrás
sem nenhuma simpatia

quando ouço o vento que me toca
sinto que no peito algo me enforca
sigo meu caminho só
apenas caminho com meus pés no solo

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Possessivo

Minhas criticas destrutivas,
destruíram um muro inteiro
de puro concreto, macio,
e regras intuitivas, induzidas pelo dinheiro.

Meus ideais fadados
à falência e a corrupção,
se não o fossem, ideais não seriam
seriam ideias sem conexão.

Meus enterros solenes
de deuses e nobres heróis,
de mitos, igualmente perenes,
mas que a terra cobre sem dó.

Meus dedos calejados,
Meu ardor irreligioso,
Meus olhos cansados,
de ler, não de ver.


Desculpas aos irracionais

Gordos fétidos reunidos
fracos plebeus intelectuais
rogam em coro os graúdos
por dias sempre tão normais
pobres descerebrados irracionais
coitados sem pressa de pensar
com um seixo grotesco na cuca
ideais provindos de merda
grita dum canto a maluca
que diz ter ouvido o futuro
os que percebem nem notam
os que notam nem se importam
a louca dizia aos gritos
ninguém quis ouvir mas cria
com fé choraram aos prantos
com medo nem viram a mentira
mentiram também
ouviu o neném
sem julgar o mérito chorou
não podendo refutar acreditou
repassou sem conhecer a fonte
assim continuou
até hoje
ouvi e quase acreditei
desculpem os que ainda crêem

Sempre tentam quebrar meus sonhos

É fácil para você
Você é uma dondoquinha
Você vive de banquetes
Enquanto outros de farinha

É fácil para você
Que não tem nada mais pra querer
Você tem o que quer da vida
Enquanto outros só a tem sofrida

Você só quer ser Deus
Ou tirar o sofrimento do seu caminho
E pensa que consegue isso
Só com esse seu sorrisinho

Você não tem poder de mudança
É apenas uma criança
Não conhece o mundo real
Até detesta ver jornal!

Como pode sofrer pelos outros
Se não vive como eles?
Como pode sentir tanta dor
Se essa dor era só deles?

Quantas vezes já tive que ouvir
Que é fácil para mim sonhar
Só porque tenho o que preciso
Ainda que não tenha que trabalhar!

Que fique claro que acho injusto
Esse jeito cruel de pensar
Cada vida tem seu custo
E o da minha é amar.

Dona M

Oito filhos
Vários netos
Dois bisnetos
Vida sofrida
Deixada sozinha
Filhos pequenos
Trabalho duro
Tão sozinha!

Todos grandes
Todos formados
Tanto sucesso
Depois de tanto trabalho

Lá se vão as duas pernas
Lá se vão seus dois olhos
Lá se vai sua família

A grande família que cresceu
com sofrimento e esforço daquela nobre mulher
Que hoje é uma senhora
Que não pode andar sozinha
Que não pode ver o mundo
Que detesta ser dependente
Que perdeu as razões de viver
Que de todas as tristezas
Amarga a de uma família ingrata
Família que já luta pelos bens que serão herdados
Que quer mandar a mãe pro asilo

E a velhinha só quer morrer
E me diz com aquelas doces lágrimas e
o fofo cabelo branco
Que nada mais faz sentido
E me deixa sem palavras

Posso sentir aquela dor
Olho com raiva para os filhos ingratos
Filhos que não quero entender
Olho com raiva para mim
E digo o que não quero dizer
Porque é minha obrigação
falar a ela pra viver
Para lutar e para sofrer

E eu ganho um abraço
Emocionada
E a senhora abençoa o meu trabalho.
E eu maldigo o meu trabalho.
E admiro a dona M.
Tão sozinha!
Nunca tive aquela força.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Soño

Sono que me incomoda,
lento e aturdido,
sonho que me acorda,
com lamentoso gemido.
Recorda o verso esquecido,
e vai escrever a noite,
quando acorda embevecido,
embebido em banho maria,
bêbado, trôpego e sem sentidos,
levanta só pra escrever,
e já cai pra dormir de novo,
sem ver, bebe um copo d'agua,
depois encosta no sofá,
rascunha no chão sua mágoa,
antes de novamente deitar,
no quente leito macio,
com leite morno amanhã,
e sonhos que dão arrepios
pra minha doente mente sã.

Eu em sorte

Destemido eu
encorajado sou
mal-dormido estou
enfadado fico

Faminto eu
sonolento sou
corajoso estou
medroso fico

refutável eu
ignorante sou
impaciente estou
amável fico

manhoso eu
carinhoso sou
maduro estou
verde fico

feliz eu
companheiro sou
desiludido estou
irresponsável fico

criança eu
complexado sou
imperfeito estou
necessitado fico

ex-suicida

Um passo à frente e me vejo cair
se caio não volto a levantar
enquanto só penso em voar
da vida eu espero sair

Por mais que eu seja firme
sou o ferro a fogo quente
sou maleável como minha fé
sou hipócrita e verdadeiro

por ser tão real
vivo meio paradoxal
sendo tanto imperfeito
a vida não encaro
não abro meu peito

Por medo de cair me jogo
com a certeza do que tenho eu fico
com tanto amor no coração
não me aguento e paro
não desejo outra emoção

o livro

Se ouso falar devo pensar
pra verdade ser ideal
real precisa a coerência
se distorço os fatos
que distorçamos todos
Se escolho as verdades
separamos as mentiras
se há mentira e verdade não falseável
falsa a verdade tanto quanto mentira
Se não sei quem sigo não sigo
se não conheço meus valores
não tenho moral, não tenho valor

desigualdade e indiferença

pouco importa a quem não pensa
nada se importa sem condição
ninguém pensa com boa condução
mas todos pensam um dia ter
condição pra ter condução
desigual é ter por ter
quando ao lado não se tem
mas quando se faz ter
tendo força para tal
forte é sua vontade
não ter por falta de vontade
é motivo pra nunca reclamar
ter só por vaidade
é escolha válida
deriva de luta de qualquer jeito
e luta é pra quem quer lutar
saber é consequência do querer
ter é fato iminente ao querer
precedido de lutar e este de vencer

perde-se olhos para o lado
quando se ganha objetivo
foco é o motivo da indiferença

não vou colocar título

Estrada à minha beira
esquentava o que hoje sou eu
lembrando o fogo na lareira
vez ou outra me lavo no rio
Chuva me aquece no verão
no inverno só lembro do frio
com sono me deito no chão
sei que caminho sem direção

creio na minha orelha que ouviu
da boca de quem não se lembra
disse um dia que não aguenta
ninguém que pensa que ama de mais

se alguém pode e quer ajudar
peço que não deixe de mandar
pensamento ou um pedaço de pão
uma ideia ou uma boa ilusão
não quero dinheiro
não preciso de muito
só quero carinho
e talvez um carrinho
pra poder dormir e sonhar
pra poder brincar quando acordar

quero uma vida de novo
só pra poder aprender a viver
desculpem os que não me entendem
escrevi pra que eu me entendesse
e ainda nem li pra saber se me entendo

terça-feira, 25 de maio de 2010

Meus versos presos na sala

Não comente,
nunca mente então,
semente da redenção,
somente os dias mais belos
os elos da elucidação
dos poemas singelos
que brincam de rimas,
como que pra fazer confusão.

Num canto, a mala,
noutro canto,
sua voz eu ouço,
não é possivel amá-la
se viajarei pra muito longe,
sairei do calabouço
morar onde, não sei,
só sei que os seus versos,
aversos à aparição,
me causam curiosidade,
vontade, insinuação.

fé pra não ter fé

Na pirâmide kelseniana
fundamento meus princípios
quebro barreiras humanas
formulando exatidão
possível racionalidade
desprezível realidade
Moralismo relativo é base
valores distorcidos
crendices mal fundamentadas
fé irraciocinada, fé
num lapso temporal
com um laço ideal
que enforca como a forca
e guilhotina com a força
com um nó na garganta
prendo minha vingança
podo minha esperança
de sentir a luz brilhar
sentir iluminar
ouvir a verdade vibrar

À uma baluarte amiga

E então você resolve partir
Sem se despedir
Sem pedir ajuda
Usando sua vida como bem entende
Como se ela fosse só sua
Como se não fosse ferir ninguém
Não sabe que está dentro de um jogo
Não sabe jogar sem as regras
Não sabe como contorná-las
Como embaralhar o mundo
Como esquecer a dor
Não vou deixar que parta
E não importa o quanto me recriminem
Não vou deixar que suma
Que deixe que tudo acabe
Eu sei que dói
Eu sei que pode não passar
Eu sei que os significados se perverteram
Mas não escolha o precipício
Estaríamos todos perdidos
O céu nunca mais seria o mesmo
Se perdêssemos aquela estrela.

Morte à dor!
Mas não corte a vida.
Nunca foi preciso que aguentasse tudo
Nunca pedimos que tentasse
Não tem que segurar o Universo tão só
Fortalezas resistem, mas não protegem a si mesmas.
Fortalezas são símbolos, mas também caem.
Somos vários ombros
Dividiremos o peso.

Rotação de culturas

Não que eu saiba
quando chega a primavera,
e meus dedos começam a dobrar
novamente como era
antes do inverno chegar
Mas muito pelo contrário,
todos os dias eu vejo
a alternância de estações,
em um dia, todo o calendário,
no final de semana o desejo
de voltar a ser o que não foi.

E depois, descobrir que não sou
exatamente o que quero
que era o erro crasso,
tudo aquilo que não espero.
Mas de nada me preocupo:
amanhã serei outro,
quem sabe outono,
quem sabe outrora
alguém que ainda não fui
independente da demora
pra entender que o mundo flui.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Banho

Minha cabeça doi
a espuma do sabão lava a água
as luzes me atrapalham
a água era suja
o que tenho nos olhos?
agora a água está melhor...
ainda sinto dores de cabeça
o sabão dança em ondas
ouço uma campainha invisível
me lavei com a água limpa
sinto um cheiro inaudível
a água agora é suja
o que tenho com meus sentidos?
o ralo chama a água suja
sinto uma dor que me incomoda
a água escorre e vai
eu fico sobre meus pés descalços
molho-me sem notar
molha-me sem que eu note
a água não se sujou de sabão?
eu me sujo quando me banho?
a água suja me lava
fico limpo e sujo a água
quem é a água?
onde estou?
o banho me suja de água e sabão

Olhos

De olhos entreabertos
com um suspiro no peito
o breu me atormenta
tenho medo do que comentam
se vem a morte quando me deito
se minha cama me prende
talvez mais forte
talvez eu não suporte
não sem dor

mas mesmo uma flor
para ter valor
deve ser arrancada
tem que ser podada
não se presenteia uma flor no chão
ninguém deve entristecer e viver na solidão

desistir é pior que perder

antes morrer em batalha
melhor que viver na obscuridade
assim pelo menos uma medalha
nada além de piedade ou maldade

sorte de quem vive alheio à vida
triste dos que começam a conhecer
quem não percebe que morre e morre
só morre depois de viver
quem vive pensando na morte
não vive mas aos poucos, só morre...

domingo, 23 de maio de 2010

A maçã dourada

O que me falta?
Diga-me por favor!
preciso da resposta,
não sei os motivos
desses constantes atinos,
que deixa vivos
meus sobressaltos repentinos,
meu incomodar constante,
uma ferida que nao se cura,
a loucura do instante
desdobrando-se no vento
incessante desalento
a embalar meu sono lento.

Vicio que não se cura
por simples privação,
meu desejo é proibido,
pra voce, pra mim nao,
o ensejo da libido,
a fuga da mesmice,
e o coração dividido
por tudo que me disse.

E o que me falta é algo novo,
pra poder continuar sendo
o que eu era antes de amanhã,
o oposto do que quero,
o que queria outrora
é diferente do que quero agora.

Minha quimera

Um barco sem rodas,
um dia acinzentado,
sou eu sem você
aqui do meu lado,
sem perceber
que o amor acabou,
que a noite caiu
e o dia raiou.
Meus olhos cegos
que agora podem ver
o que mora no ego,
que eu me pego a refletir
todo dia, toda semana,
sobre coisas tão sinceras
coisas tão sacanas,
coisas tão normais,
duzentas mil quimeras
que me atormentam demais.

sábado, 22 de maio de 2010

Joga de lado e sem beiras

E quem disse que precisa, de algo novo pra falar? diz que está cansado deveras pra continuar, também diz que o que se fala é o certo, ouve muito por aí, mas ainda nao descobri, porque leva tão a sério.
E quem disse que precisa de verso pra rimar? Rimo é com letras, não com palavras no lugar que eu escolho aleatoriamente. Quem mente? precisa perguntar? Já sabe a resposta antes de eu continuar.
E quem disse que a semente um dia vai germinar? ou ao acaso me jogo sem nada na cabeça, sem pressa, sem querer, que nada aconteça, esperando a hora certa de parar.
E quem disse, que a fé sempre alcança? Será se não percebe que, a mesma luta sempre, cansa?
Mas eu disse o que era certo, eu dei muitos conselhos, falei pra ter cuidado com esses novos aparelhos, falei pra acordar cedo, ter um emprego e uma mulher, falei mais que devia: da vida a dadiva é o fim, o inicio ou o meio?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Na verdade eu me importo sim

Tristeza não é depressão.
Saio da sala, sem permissão,
apenas porque quero ficar só.
Se não se importam, tanto melhor,
também nunca fui muito
de me importar.

E me sento na rua,
espero que o tempo passe,
se por um lado eu estou só,
estar na multidão
é a outra face.

O destino do suicida social é esse.
A viral desesperança se assemelha
àquele clima de mudança.
O que me prende na porra da minha casa são apenas eles.
Apenas eles.

Eu tinha me esquecido
o tanto que abrir
as portas da percepção
faz mal a esse jovem ancião.
Meus cumprimentos, e não se esqueçam das minhas cartas. Leitores fantasmas.

Der Steppenwolf

Hipócrita.
Sempre fui. Fui com orgulho de não ser,
ao meu parecer, apenas um engano,
tentando consertar
o deserto dos meus dias.
de longe a montanha é bela,
a relva parece macia,
de perto a areia amarela,
de cima o medo de altura,
e o medo de escalar.

Antes eu queria mudar o mundo,
depois pensei em mudar meus amigos,
hoje tento mudar a mim mesmo.
Hoje é tão difícil quanto antes,
e quando a esmo, e o pensar distante
deito na praça, como ontem fiz,
é pra olhar a lua e as estrelas,
de forma alguma triste, nem mesmo feliz,
apenas tentando entendê-las.
Mas elas me mostraram algo bom,
que eu ainda não sei racionalizar
pois não é esse meu dom,
lógica e contas, talvez uma profissão,
um lugar que o lobo das estepes,
de fato não abre mão.

E se julgas alguem melhor que de fato é,
com certeza decepcionará,
'A humanidade é avessa'
'A humanidade é ridícula',
e digo antes que esqueça:
Eu estou nela também,
não fujo da realidade,
não vou julgar ninguém.
(mas na verdade já julguei o que todos são)

E como se eu nem soubesse,
que o tumor reside em mim,
vem alguém e me diz isso,
do nada, e mesmo assim
retira de mim um sorriso
de verdade e conversa,
que pensei que nunca mais ia ter.
Todo mundo se interessa
em conversar coisas idiotas.
Gosto de criticas, mais do que imagina(m).

E das criticas vagas?
porque não falou?
é delas que eu me envergonho!
talvez nao lembraste, como bem suponho.

Mas tudo que escrevo é pra ser sepultado,
como a lágrima que nos escorre a face,
não me lembro do que está guardado
da mesma forma que me esqueço do que joguei fora.
Não me lembro do que escrevo,
preciso guardar pra ler,
a curta memória é uma dadiva.