terça-feira, 29 de junho de 2010

Indigente

Entornado em poções de desamor
do suor que de meus poros brota após dor
em minh'alma um puro gosto sem sabor
vida minha, eterno marco de labor

crescendo em campos destoados
sofrendo o escampo ensolarado
na mísera morte vem o corvo
que chora à espreita pelo corpo

vivenda despojada
improdutiva carente
vida minha obstinada
pobre, sou indigente

na noite um acalento
vejo meu sonho opulento
a morte me enobrece
minha dor quase desaparece
e4 e5
Cf3 d6
Bc4 Bg4
Cc3 h6?
Cxe5! Bxd1??
Bxf7+ Re7
Cd5++

E ainda haverá quem duvide
da imensa poesia
alfanumérica do xadrez


segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cobrimos Olhos Para Admirar

Pintamos em mil cores
o que em vida desbota
Esquecemos o resto
Somos uma torcida torta
Não vou torcer
Não vou apostar
Tanto faz o resultado
Glórias irão se apagar
As verdadeiras vitórias
Muitos as perderão
Ninguém irá premiar.
Fim de jogo.
Abrimos os olhos
De aquarelas às mazelas
Voltamos a reclamar.
Abrimos os olhos?
Quem poderá provar?
Talvez só estejamos todos a delirar.

Passo a página

Passo o passo
Passo a passo
Embora em minha vida
a poça possa
Penso e peço:
Passe.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Desequilíbrio harmônico

- Para baixo.
- Para cima.

- Amanhã.
- Agora.

- Luta!!!
- Paz!!!

- Sol.
- Chuva.

- Falado.
- Escrito.

- Resposta.
- Pergunta.

- Odeio-te!
- Amo-te!

Discordamos
E só assim concordamos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Minha lingua não tem papas nem papo
sou sincero e mudo
nada é tudo o que tenho e digo

Soldado Urbano

um soldado sem patente,
sem uma regra moral,
sem amor à quem pertence,
sem sonho ideal.

que um lírio perfumado arrancou,
de campos minados, sem senhor.

Suas historias de batalha
enchem os olhos de lagrimas quentes,
que escorrem navalha, no pulso,
puro sangue de gente

que pensa que o fim é logo ali,
e o paraíso: eu menti.

Se afaste da faca, se afaste da forca,
se afoito se parte, não deixa escolha.
se a noite caiu, se farte de tudo,
que houver no mundo.

sem um tiro que esquente
os pensamentos em profusão,
sem um coração que sente
aquela velha ilusão

que de velha se esqueceu que era a verdade,
que aquece os sonhos de quem dorme na cidade.

um soldado impotente,
sem um rifle mortal,
sem força aparente,
mas que cre vai conseguir

pois sabe que o fim é logo ali,
naqueles campos minados, de quem dorme na cidade.


segunda-feira, 21 de junho de 2010

Digite aqui seu título

Verso destinado a apresentar o tema,
algo meio depressivo de preferência,
escrito rápido e sobre coisas que o autor
geralmente não tem consciência.

Verso com anáfora,
às vezes sem sentido
que os tolos literatos
tentam ver explicação.

Verso bem versatil,
verso em prosa com o leitor,
prosopopéia do papel,
versado em rimas populares
sem alarde ou escarcéu,
e sem rima no final.

domingo, 20 de junho de 2010

Absoluto

A lua se afasta da terra,
e quando ela for embora
acabar-se-ão as marés,
o olhar perdido de quem namora
o passo mais leve dos nossos pés.

E horas e horas olhando pro nada,
orando pro nada, lágrimas nos olhos
por toda madrugada,
ainda bem que acabou.


A árvore centenária

Lá estava ela
Gigante e imponente
Às vezes verde
Às vezes só
E sempre linda
Duros anos
Grandes vidas
Tantas perdas
Tão sofridas

Lá esteve ela
Companheira de todas as horas
Cúmplice de vários momentos
Fortaleza inextinguível
Foi-se embora
A brutos golpes
Perdi aquela sombra
E os galhos e folhas
que me direcionavam o vento

Sem forças para evitar
Nem por um momento
Meu mundo é a minoria
Outras sombras
Outras folhas
E outros troncos
Desconhecem minha história
Marcada em anéis
E em anéis cortada

Restaram raízes
Queimadas
Talvez novo rumo se levante
E novos passos se inscrevam
Mas talvez as estradas se afundem
O sabor da chuva se perca
Os ninhos se desfacelem
As melodias cessem
E os sonhos prescrevam.

adaf - ed - sotnoC

Os cabelos não são como o sol
A pele não é como a neve
Sem olhos de céu ou mata virgem
Sem florestas e sem castelos
Sem príncipes e seus cavalos
Sem bruxas ou madrastas
Sem heróis
Cem vilões
Nem princesa, nem camponesa
Aqui e não distante
Agora e não há muito tempo atrás
Grandes pés
Maçãs verdes e não vermelhas
Distância de rocas
Alergia a tapetes, mesmo os voadores
Carregando suas próprias feras
Nem do ar
Nem do mar
Sem terra
Sem fogo
Nem toda aquela beleza
Nem toda aquela pureza
O avesso da história
Sem a passiva natureza
Nada de final feliz para sempre
Pois a felicidade talvez acabe
E, o final, pode ser que não exista.

sábado, 19 de junho de 2010

Matinée

Pelejar pra acordar cedo,
tomar café lendo revista.
tão sem pressa, eu sem graça,
vendo a fumaça subir,
achando graça do que lia:
o senado vai ganhar mais.

Tanta gente nesse carro,
tanto sonho pra sonhar,
no balanço, eu descanso,
não me canso de olhar
os prédios e as pessoas com sono.

Tudo está no lugar,
até que haja pressa.

Escrever é preciso

Tenho que sentir, pra escrever,
sou escravo, sou alma
penada que tenta ser
individuo coletivo, com mais calma,
paciência e o que for
suficiente pra ciência.

Cidadão da selva
de pedras corroídas e gastas,
tanta guerra pelo mundo,
tanta guerra em mim mesmo,
tanto medo oriundo da fé.

Mas ainda assim, tenho que sentir,
pra escrever é preciso,
consentir minhas mãos a mover
decretar um inciso, permitir,
pra tentar ir além do comum,
como um, ou com quem
quiser ir com os cinco.

Escrevo. Escravo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cemitério de ideias

Texto em prosa de buteco,
ou em verso de embalagem,
mais é texto quanto poema.
Uma viagem num, ou noutro tema,
que tema não sair da cabeça,
escrevo aqui antes que esqueça,
ou pereça, ideia fraca,
que de nada adianta lutar,
espernear e tentar correr,
é uma viagem, sem volta,
pro cemitério.

O quinto poeta

Sou habitualmente um escrevedor de prosas
E também um homem que lá fora vive
Apenas terminando linhas e mais linhas subsequentes
Minha poesia se restringe à música cantarolada
Ao amor de meu amor
Não ao que faço
Definitivamente, não ao que sou

Sou leigo de rimas
Mas quase especialista em conectivos frasais
Para minhas longas e improdutivas teses
O grafite se inflama em meus dedos
Quando tudo podia ser dito em simples versos

Pontos finais, vírgulas e travessões
Uso de tudo que a gramática criou
Mas os homens não o percebem
Então, ficam encantados com um texto ou outro
Atribuem a mim um certo dom de escrever
Quando na verdade está tudo no regulamento
E na prática religiosa de suas leis.

Pois bem, poetas
Venho-lhes com a mais infantil intenção de atrapalhar
Obrigando-lhes a uma óbvia prosa
Nesses falsos versos
Pois meu reino é de outro blog
E minhas blasfêmias também

Poetas de Schrodinger
Nome estranho e um tanto ridículo
Tal qual sua mensagem subscrita
Mas deste instante em diante aqui escrevo
E me vendo entre escrevedores
Considero-me em família, e agora são a minha família
Tomo-lhes o brasão do quinto poeta
E me publico para o grande julgamento em praça pública.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Saudade

E ela sempre voltará.
Os desejos consumados
ajudam apaziguar.
a paz, o que eu preciso,
precioso abrigo escondido em algum lugar.

E se me pedes pra voltar,
sabe que não sou de nenhum onde,
eu não sou de nenhum quem,
talvez seja alguem que esconde
pra chorar por algum ninguem.

Talvez seja alguem que sinta
o cheiro de perfume do ar.
Rarefeito efeito do raro:
o ar é feito pra poder voar.

Mas que ela volte e não me ache em casa.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Nômade

Somos pedaços caídos no chão,
somos somados sem separação,
soldados armados novatos ou não,
somos criados da criação.

Deserto dos dias de tédio,
de certo por causa da areia
entrando nos olhos abertos,
tentam ver alem das miragens,
tentam ver o caminho certo.

Urubus em procissão fúnebre,
ondas de calor da areia saem,
secam meu olhar lugubre,
caminhante, errante, solitário.

Procura-se uma guitarra

A Palheta se apaixonou pela Guitarra,
não era amor de turnê.
Ajudava em silêncio compondo
algumas músicas, letras simples
que a Palheta não sabia fazer,
mas a Guitarra parecia ter tanta facilidade...

Crueldade, não daria certo.
A Palheta sabia, mas não custava tentar,
ou talvez custasse demais,
e isso ela não sabia.

Não era, não foi e nunca será
amor de turnê.
A Guitarra trocou de Palheta.
A Palheta nunca trocará de Guitarra.
Guitarra toca só, Palheta não faz som.
A música nunca mais será a mesma.

A Palheta agora ouve de longe o som,
enquanto procura por outra guitarra.
Custou e ainda custa demais.
A Guitarra continua tocando,
em amores de turnê.

Começo

Estamos cansados demais para recomeçar,
para começar.
Paramos na metade sem ter conseguido
dar início.
História sem começo não significa
história sem fim.
Fim é muito forte para uma
história incompleta,
de páginas arrancadas, ou melhor,
talvez sem páginas.
Páginas que só podem ser lidas
por seus próprios personagens,
são 'segredos de liquidificador'.
Ninguém viu, ninguém ouviu,
ninguém assistiu, ninguém escreveu.
Somente os donos do segredo sabem
dele por completo.
O resto, é imaginação dos demais.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

lágrima de sol

Em morte ao cansaço
sem vida sem sorte
vibrando a saída
vivendo a despedida
querida e sonhada
desejada e sofrida
quase mato a madrugada
meio durmo o dia morto
muito choro ao meio dia
e de prazer à meia noite
cresço na mesma altura

morro e ainda vivo
corro e ainda morro
vivo correndo da morte
morta minha vida
viva minha morte
corro com a vida
morro quando corro
corro
vivo
morro

sábado, 12 de junho de 2010

Sinaleiro

Já à distância
Meu coração se angustia
Tenho que parar
Esse não é meu dia
A abordagem é cálida
A resposta é que é fria
Fico aturdida
Não me deram essa direção
Não é tão simples dar a mão
quanto escolher uma mão
Direita
Esquerda
Pobre ilusão
Pobre coração
Pobre...
Engreno marcha um
Hora de seguir
Deixar a dor para trás
Encontrar para onde ir
Olhar para outros daqueles olhos
E saber como agir.

Foice! Foi-se...Não vai mais ser?

Todos de branco
Alguns, sem cor
Rodeiam um ser
Sem muito louvor

Estudos sem fim
Risos do além
Sem considerar
Que ele era humano também

Pulo a cena
Não é justo assim
O que faço ali
Tão longe de mim?

Olhares perversos...
Porque estou com máscara
Ou porque estou sem máscaras?

Rostos e histórias
Mãos e suas glórias
Rostos sem corpos
Mãos sem vitórias

Sob o cheiro amargo da dor
Lágrimas aos olhos
Olhares perversos...
Não entendem meu amor

Foice!
Foi-se um ser
Não vai mais ser?
Olhares, olhares sem nexo.

Ela sorria e seguia

Ela sorria e sorria
Tinham certeza de que sabia
Qual o segredo da vida
E o lugar pra onde ia

Ela sorria e sorria
E alguns a julgavam louca
Que saía sem responsabilidade
Que olhava o mundo sem maldade

Ela sorria e sorria
E a julgavam digna de pena
Porque via o mundo ao contrário
E em tudo uma harmonia

Ela sorria e sorria
Mesmo depois das lágrimas
Mesmo durante as quedas
Sua estrada era a alegria

Ela sorria e sorria
Gostava do diferente
E tentava dizer ao mundo
Qual era sua filosofia

Ela sorria e sorria
Embaralhava as regras
Misturava as palavras
E brincava de poesia

Ela sorria e sorria
Amava demais
Sonhava demais
Sempre uma nova melodia

E ela sorria e seguia
E nem sabia pra onde ia
Sua vida era uma surpresa
E a felicidade era seu guia.

De mente pra alma

Pense o que eu penso
Diga o que eu digo
Aceite o que eu falo
E só terá toda a minha irritação
Concordância não irá me convencer
Aceitação não vai me vencer
Só o pensar me traz emoção
Toda vez que disser sim
vou dizer não
Passividade não me conquista, coração.
Faça perguntas e sossegarei
Dê-me respostas e jamais calarei.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mesóclise

Precisar-te-ei-me de ti,
aqui perto de mim,
mentindo acalentos,
momentos que senti.
Precisar-te-ei-me,
para sempre que pudermos
estar no meio de nós dois.
Amar-te-ei-me no preterito
e no futuro, indicativo de paixão,
amar-te-ei-te com sofreguidão.
E se faltar avidez ou tesão,
deitar-te-ei-mo-nos, sem frescuras,
enrolados, os dois, no chão.

Lembranças esquecidas no chão do quarto

Comprimidos comprimidos
contra o céu da boca.
Seus cabelos compridos
são o céu da imaginação,
o pensar dividido
entre o pecado e a salvação,
de tão marcado que não
hesita duas vezes,
e já despido, se espreguiça pelo colchão.

Perfume perfeito,
feito pra durar,
na imaginação do garoto.
Prelúdio do intenso
drama noturno,
abrandado pelo insenso,
forte e entorpecente,
apagam o libido,
o imoral, o indecente.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sorrisos...só risos

E os risos cobriram rostos
Cobriram épocas
Cobriram datas
Curtiram o vento
Curtiram a vida
Viraram o mundo
Viraram os sonhos
Vieram às almas
Que sentiram nos corpos
Os risos quentes
As gargalhadas infindas
Os sorrisos doces
Aqueceram corações
Iluminaram estradas
Indicaram caminhos
Escolhi o meu
Quero rir para sempre
Quero fazer rir
Gosto da beleza do humor
Gosto de sua natureza
Embriaguez sem tristezas póstumas
Assim, é delicioso viver
Só risos...sorrisos.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Poesia matemática

Silencio quente da noite,
olhos vidrados e vermelhos.
enfrento todos meus inimigos
nessa tela de espelhos.
sigo seu simples conselho
de seguir meu prórpio caminho,
mas não acha que sozinho
vai ter mais estrada pra caminhar?
Não acha que eu preso nessa loucura
a cura vou procurar?
Escura face racional,
face poética da ternura,
se fundem nesse algoz sentimental,
que o tempo todo me tortura.

Juízo de imparcialidade

Há de se interpretar
sem rol taxativo de fato
da razão meus olhos desato
sei não ser sensato

sem ser real nem parcial
pode minh'alma impetrar
em termos gerais obstar
a sentir o moral sentido

sem prejuízo ao temor
calo meus olhos da dor
com poder para ser
dou de presente o vencer

mascarada a vergonha que sinto
resguardo e nunca desminto
por triste que sou eterno pecado
muito sinto o monstro ao meu lado

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Filmes que me marcam

Arrecado sorrisos mortos
arranco sofrimento falso
faço chorar minhas lágrimas
faço rolar meu sangue em veias
sinto o pulsar de meu peito
choro sem perceber
triste de quem comigo não sente
aos prantos e gargalhadas
sofro e amo por migalhas
cresço e volto a ser criança
nostálgico volto a chorar
e outra vez, por medo, sorrir
de um susto volto a mim
com os olhos entre dedos
quase não olho
quase me molho

desligo a tv
agora posso dormir...

suicido da morte pra sentir a vida

Quando corro não chuto
quando chuto giro
quando pulo sempre volto
quando caio só, levanto
quando calo me lamento

quero colo pra dormir
quero água pra ter frio
quero vento pra sentir
quero algo que sumiu
quero vida pra gastar

quem me disse pra sonhar?
quem chorou à beira do abismo?
alguém viu alguma lágrima rolar?
alguém sentiu algum coração bater?

domingo, 6 de junho de 2010

Não consegue ser feliz sozinho
acaba exteriorizando a culpa.

'Mulher não presta'
'Homem não presta'
'O amor não presta'

Ao invés disso tente se reconciliar com você mesmo.

Hai-Kai de partida

Meus amigos são
Eu os amo e libero,
meus amigos sãos.

Luta contra a luta

Ganhar não é preciso
O importante é competir,
meu bem
Só assim vale a pena seguir

Mas eu não quero competir!
Por favor, eu não posso partir!
Eu já sei para onde quero ir!
Não quero brigar para ganhar minha vida
Não quero brigar para ganhar o jogo
Não quero jogar
Já disse que estou fora do baralho
Já disse que não quero ser peça de nenhuma guerra

Mas, minha querida! É importante competir!

Deve ser porque isso é o normal para acontecer
Desde o início dos tempos
Mas nunca pude ser normal de verdade
E não é agora que quero ser!
Não posso jogar.

O importante é competir?
Ponto para o leão!
O alce se foi, mas fez o que era importante.
Ponto para o lobo!
O cordeiro se foi, mas tentou na briga.
Ponto para a tartaruga!
E o coelhinho perde o ego para a moral da história.

Mas nada disso faz sentido para mim.
Eu não sou assim.
Acabo entrando em jogos que não quero jogar
E se por acaso recebo méritos
Também recebo acusação
Mas eu não escolhi aqui estar!
Eu não quis participar!

Talvez por isso eu não possa
vencer a seleção
Talvez proteja demais meu coração
É que só quero viver
Sem balas
Sem bolas
Cruzando com raiva o céu
Sem xeques
Nem mates
Pouco amistosos
Jogados ao léu

Não fui feita para isso
Não gosto de brigar
Não gosto de lutar
Não quero ir para guerra
Mesmo que seja para ganhar

Esse não é meu sonho
Esse não é meu mundo
Competir é ato histórico
Mas não tem nada de profundo.

sábado, 5 de junho de 2010

Like a rolling stone

Era pra ter sentimento
em tudo que eu faria,
era pra ser insensível
e não perecer.
Era pra ser de um jeito totalmente diferente do que é.

E agora o que eu tenho?
Bob dylan tenta me responder,
mas ele é mais um idiota,
quem se importa se eu me esconder?

Era pra vir de dentro,
Era pra ser intenso.
Mas eu não tenho nada lá,
eu nada sei, nada sou, nada penso.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Conversei com as Moiras

A morte existe, o morto não,
o corpo nada mais é
que um pedaço de pecado,
largado na imensidão.
O morto existia,
antes de morrer,
depois da morte
é como a terra,
e com sorte, será ela.

O morto vem depois do fim,
assim como voce, pra mim,
Ele escapa para a eternidade,
vai sem ter idade,
é pra sempre, ou não sei,
pois quando fui
não voltei.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Apito final

Aquela bala não era minha, mas parou em mim.
Sempre pensei no que pensaria na hora da morte.
Só conseguia pensar que estava morrendo.
Boca seca, o ar não chegava aos pulmões.
Mãos geladas, sangue no chão.
Estava com frio, precisava dormir.
Ouvia som de sirene se aproximando.
Olhos assustados me observavam com pena, medo.
Estava ficando escuro demais, mas deu para
notar que finalmente tinham chegado.
Abri os olhos acordada pelo som
alto da sirene e com o pedido do jovem médico.
Ele não queria que eu dormisse, mas eu estava
com frio demais para ficar acordada.
De alguma maneira eu sabia o que ia acontecer.
Ele e os enfermeiros já tinham
feito o possível, minha morte não seria culpa
de ninguém ali dentro, algo familiar em
seus olhos não me deixava ficar sozinha.
Acariciava minha cabeça, tentando olhar
discretamente minha temperatura,
como um amigo, um irmão preocupado.
Disse para ele que estava tudo bem.
Ele disse que daria tudo certo.
Estavamos na verdade tentando
nos acalmar, nos enganar.
E os meus amigos ?
E minha família?
Recebi a noticia que já estavam todos
no hospital, me esperando, mas eu
não veria ninguém e sabia disso.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Eu estava morrendo !
Tudo passava pela mente agora,
queria ver todo mundo ao mesmo tempo.
Queria visitar vários lugares, dizer tantas coisas,
mas meu tempo estava acabando.
Pelo menos não fui embora sem andar de ambulância.
Cheguei no hospital, começo da contagem regressiva.
Olhei para o médico, aflita.
E ele adivinhando minha pergunta respondeu rápido
que eu não iria morrer, segurei sua mão e o
livrei de qualquer culpa.
Tudo escuro novamente.
Agora, eu 'ouvia' um apito constante.
Desfibrilador .
Cinco...quatro...três....dois....um..
Cinco...quatro...três....dois....um..
Cinco...quatro...três....dois....um..
Um médico em silêncio.
Uma família na sala de espera.
Eu dormindo, ao som de um
apito constante, final.

Para meu monstro interior

Gasto folhas para você
Gasto ideias para te escrever
Não ganho nada com isso
A não ser um certo alívio
Por não te compreender
A cada passo meu quem mexe é você
A cada berro meu quem me fere é você
A cada grito de susto quem me surpreende é você
A cada longo suspiro quem eu amo é você
A cada dor que sinto quem me entende é você
A cada momento solitário quem me completa é você
A cada questão de amor mal resolvida quem me prende é você
A cada urgência minha quem justifica é você
A cada sonho meu quem me leva em frente é você
A cada tristeza minha quem me faz chorar é você
A cada pensamento meu quem intromete é você
A cada sorriso meu quem me faz fingir é você
A cada promessa minha quem me faz cumprir é você
A cada romance meu quem impede é você
Você que não é nada, mas é tudo
Minha alegria e motivo para tristeza
Minha companhia e motivo de avareza
Como posso ser assim?
Tomada por um monstro que pouco tem de mim?
Só sei que ao mesmo tempo que fere e mata
me eleva e faz viver
Já não posso sorrir
Já não posso chorar
Sem que sinta você
Você sou eu agora e nem sei a diferença
Nem como foi que diagnostiquei semelhante doença
Quero sonhar meus sonhos
Mas não posso te esquecer
Acho que nunca pude escolher
Só há uma alternativa possível: viver
Um corpo morto em um corpo vivo
Um mistério em um enigma
Mil vidas numa só
Um Universo em simples matéria
Uma constelação
Um jardim
Uma resposta
Mais de mil perguntas
A verdade
A solução
A tristeza
Minha união
Onde é que está virgem coração?
Meu mundo não quer me acompanhar
E fico escrevendo só a pensar
Em como seria
Se eu estivesse aqui sozinha
Sem que fosse você a escrever para você
Para que eu pudesse dizer sem me controlar
Revelar sem interromper
Nem que para isso com você precisasse romper
Mas sei que não dá
A história vai continuar
Afinal, você sou eu
E, minha verdade, há muito já morreu.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Falando

Falar sozinho não é complicado.
Falar e não ser compreendido é insuportável.
Falar sem dizer nada é não praticar a ação do verbo.
Falar sem verdade é não sentir o que se diz.
Falar sem pensar...talvez seja falar.
Falar por falar.
Quem fala sozinho é louco.
Quem deixa de falar por falta de ouvintes é tosco.
Quem não fala por medo é oco.
Quem fala demais sem medo é tolo.
Quem fala e fala é falante.
Quem fala e abafa é constante.
Quem fala e escreve é viajante.

Tudo bem ?

Momentos felizes se vão
com a mesma facilidade que chegaram.
Se vão, ou nunca estiveram aqui?
Talvez tenha sido ilusão.
Quem sabe eu já sabia que era.
Quero dormir, acordar quando
tudo estiver melhor...
Será que vai melhorar?
Posso tentar deixar tudo bem,
ou seria melhor fingir?
Não dá, sangra demais.
O vermelho vivo do meu sangue
cala minha comodidade,
enquanto sai, lento e decepcionado.

Arquivado

O que ficará?
O que fiz, o que pensei ter feito,
o que farei ou o que penso em fazer?

Olho em volta.
Crianças brincando de pega
ou fugindo dele?
As armas são de brinquedo,
ou apenas brincam com
a pequena idade de quem às tomam?

Quem ajuda, quer ajuda?
Quem anda, quer correr?
Quem vê, pode relatar?
Da queima de arquivo
não vamos falar,
apenas arquivar.

das gentes o melhor.

Ideias ideais,
ideais induzidos,
eu quero mais ideias,
quero demais
tais rascunhos proibidos,
entender a lógica da fé,
matemática pura,
mais é mágica até
descobrir que era loucura.

Ideal é a loucura
que nos deixa de pé,
criatura ansiosa,
que atura a saudade
se ser quem era antes,
outrora era alguem,
agora espera por ele
sem a qual não vive sem.

Fugi com o circo

Te pego no alto
do teatro sem roteiro,
no primeiro ato,
asbtrato, corpo inteiro.
vago espaço, sem ensaio,
eu saio e você vem,
se você não vem eu caio
na boca do povo de novo,
esperando intervenção divina,
pra conquistar aquela menina.

Saimos escondidos então,
pra comemorar o pedido,
de uma nova demissão,
permissão pra viver iludido,
acreditando que a canção
sempre acalentará o perdido.
Que se perde toda noite a procura do dia,
que compra seus sonhos de manhã na padaria.

Transe

As calças dobradas,
os pés dentro d'água.
o olhar perdido,
o frio sentido,
o olhar não sabe voltar pra casa mais,
e agora já está anoitecendo.

Corpo em transe,
mente distante,
transam os pássaros
encima de nós.

Os peixes beliscam
as pontas dos dedos,
mordendo meus medos,
memórias dos pés,
por onde passaram,
a saudade fica,
se saudadifica,
fica mais perto do coração.

Lança

Os conselhos que me deram escorrem.
Morrerei assim, com uma lança de amor fincada no peito.
Retirar só me fará morrer mais rápido
e o buraco, o sangue que escorrerá por mim,
só me trará doces lembranças.
Decidi deixar a lança onde está, não foi um lance.
De que adianta tentar mudar algo imutável ?
Tento sair de sua volta, mas vejo sua imagem
em todos os olhos, em todos os olhos.
Nenhum com seu perfume.
Nenhum com sua presença.
Dizem que nunca vai me amar.
Mas meu amor é teimoso, não é egoísta,
quer sair e viver por nós dois.
De que adianta ter outros rostos,
se o seu é o único que quero admirar ?
De que adianta outras músicas,
se é o som do seu violão que embala
meus sonhos ?
É a sua foto de olhar distante
que me toma horas.
É a sua doce inocente malícia
que gira a lança cravada em meu peito.
Não acabará.
É uma lança, não foi um lance.
Se ter valor é fingir que nada sinto,
estou oficialmente dispensando valores.
Eu quero você!
Valores, moral, opniões...que se dane tudo.
O que realmente me vale é ver você
contra a luz do sol.
Sentir o sangue quente correndo pelo meu corpo.
Poder passar a noite em claro, só para te ver dormir.
Poder te tocar.
Sentir seu gosto na ponta da língua.

caracteres

Pra viver na abstração
sendo paralelo à razão
sangrando a imaginação
pra entender a verdade

a verdade é relativa
a certeza é abstrata
a fé inabalável é fé
nada é real, verdade

quando não sabe
ninguém é certo
não há certezas
boas inverdades

basta crer
julgo a fé
não ter fé
só certeza

negar
viver
sonho

vivo
nego

sou

eu

Incerteza relativa

Penso em deixar de pensar no pensamento
não consigo me esquecer de tentar lembrar
mesmo assim não lembro
ainda assim continuo pensando
julgo não mais julgar
nem me julgar
jogo com meus devaneios
me pego em jogo de juízo arbitrário
não sei se sou certo
não sei se quero ser certo

ideologistica

Ainda que meus pés não toquem o chão
mesmo que meus dedos não se arrisquem
ainda que minhas lágrimas se sequem
mesmo que minha voz rouca se cale

grito com toda a minha força
choro todo o rio do meu corpo
raspo meus dedos no asfalto quente
corro sem pensar e sem respirar

se vou atrás de um sonho qualquer
se quero um dia não me esquecer
minhas raízes, minhas unhas sujas
o gosto da terra molhada
o cheiro da chuva caindo

Não sei quem eu sou
mas nunca me esqueço de quem eu quero ser

Velho

Um desejo enterrado
meu sonho perdido
crio chances mortas
creio em bocas mentirosas
olho com olhar cálido
sinto um corpo trôpego
reclino a poltrona
acomodo a coluna
penso em não mais pensar
quase durmo
sei estar acordado
sem forças soluço
nem consigo chorar

não consigo viver
não consigo morrer

Sentenciar sentido.

Amanhã será o reflexo de ontem.
Hoje é apenas intervalo de ambos.
Como ou qual será meu 'flash back'?

Vejo fotografias e assisto pequenos vídeos
em minha mente, que arrancam de mim
sorrisos de lembranças, saudade.
Reflexões sobre o que já foi pedido, vivido.
Nenhuma lágrima, são boas recordações.
Passaria novamente e principalmente,
gravaria com o mesmo apreço.

Eu e o destino, quem é dono de quem?
Terei que esperar a martelada final de amanhã.
Sou ré, ouvirei minha sentença calada.
Não será um julgamento doloroso.
Talvez nem seja julgamento,
apenas conclusão.
Fim de tudo, não dos tempos.