quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Paz de lua

Da penumbra sinto minha paz
que se desfaz e mente comigo
finge-se amigo mas esfaqueia
trago comigo uma singelidade

o luminar reflexivo me guia
é menor e mais belo aos olhos
lembra tristeza apesar da beleza
mostra-me paz quase intocável

sofro em perdão
choro por felicidade
nem sei se quero
mas quero! E quero.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Um laço amplexo

Cada dor dói menos em abraço
E não há frio, nem angústia
e nem cansaço...
É possível ver além
O que não percebe mais ninguém
E sorrir do desconhecido
Como quem já viu a maior surpresa
E brincar com todos os sorrisos
Como quem confirma a maior promessa.
Daí, se sabe que todo abraço é um elo
E que sempre há braços para amparar
Mesmo que de longe possam estar.
Porque cada abraço é um pedaço de amor
E todo amor, um pedaço de cada ser.
E não há abraço que seja amor em pedaços
Abraço que faça o bem perecer
Porque, se abraço é amor,
Só foi feito pra crescer.

Maquete

Passo por passo
E em cada esquina
Um embaraço.
Não se vê da horizontal
Só de cima ou só por baixo.
E tudo que era pensamento
É agora ação
Mecânica, mecânicos.
Somos focados e,
por isso, desfocados.
E os carros são de papel
E todo ser se derrete
Só não se vê quem assiste
E comanda
Esta louca, desenfreada
Maquete.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Medo

Não consigo ver felicidade em meus olhos
nem tristeza em meu pensamento
tudo o que tive se foi, feito dor
nada mais além de labuta e tormento
sem noites de sono nem mais medos
estável intranquilo sem fé nem razão
sem paz nem perdão
sem triunfo nem glória
sangue nas mãos
medo

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Aquebrantando

Olhos pelas fendas que se marginalizam
na infeliz avareza de um destino amargo
vida que me integra um sentimento nú
visão que acalenta um sentido crú
outros tempos tenho de outra era a vir
e que a casca apodreça sem fazer sentir
que os olhos suem lágrimas sem se congelar
que meus músculos ardam sem fazer chorar
doce o inferno vil que nem mais sofro
e triste céu que não desejei sem medo
céu de cortinas negras, muros impassáveis
onde verdade negada é o prazer da mentira
prefiro o inferno do conhecimento e da plenitude
me sangro em saber que dentro de mim guardo
gotas da felicidade que tive e nunca largo
nunca largo...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Alvorada

A cada manhã um milagre
Tão grande quanto o entardecer
De novo um recomeço
Que anseio em conhecer

Os passos se alternam
Dizendo o que vai ser
E na dança matutina
Tudo vejo engrandecer

Doce chuva ainda lava
Qualquer resquício de dor
Leva consigo os dissabores
E deixa o nobre, lindo amor.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Águas de verão

Do sal que por meus poros brota
da água que finge refrescar-me
inflige queimando a pele morta
que há de ainda me lacrimejar

O corte da faca que me sangra
cura-se com o sal-mar
marca quando o sol brilha
cicatriza o risco acompanhante

O sol que espera seu amor
alma gêmea que tarda a vir
não se mostra, nada ilumina
nada sua, quase nem existe

Há de vir
no aguardo choro meus poros
sob o tosto do mostrante
bravo, só, abstinente, esperante.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Espelho

Digo que te amo
Você sussurra o mesmo
Devolve o sorriso
A carícia preferida
Brinca com meus olhos
Mantendo firmes os seus
Cada movimento é recíproco
Cada lado é o outro
Cada um, a continuação
Mas frio como vidro
Desdenha a minha escolha
Vejo como é mais simétrica
A sua outra imagem
De repente o firo
Se quebra
Só me viro
Não mais me vê
Você, lacerado
E eu, doente.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Falando de amor

Meu pensar sem pesar
meu defeito ardil
minha dor injustiça

espelho olhos flébis
não que eu me decifre
fico plangente...

me atocaio
mistério seja meu mundo
escondo atrás da pupila
proíbo lágrimas serem notadas

me escondo
guardo meu coração
dentro de um mundo desconhecido
em uma ideia criptografada

que nunca me encontrem
sou todo amor
todo amor que é dor me faz temor
quase choro, não saiba...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

We can work it out


Preciso agora de um novo poema
que sobreponha e supere o anterior
Que embora poeta de alma pequena
possuo um coração cheio de amor.

Pois bem mal disse
Briguei, desliguei-me
Desentendi-me pelo prazer de me desentender
com o ar, com a terra, com o céu e a chuva
Com você, meu desentendimento favorito
Minha falta de explicação
Minha desrazão
Meu estar feliz por estar errado
Meu lado ruim escancarado
Mas ainda assim amado.

Pedir desculpas, não vou
Ofendidos fomos, meu orgulho e eu
Só que não me importo tanto assim comigo
O orgulho é que me mata
Consome e corrói
Impede-me de ser feliz o tempo todo
a todo o tempo
Cansei-me de ficar aqui emburrado
sozinho e desolado
Esperando o seu orgulho ceder primeiro
Fazendo-me de coitado
e vítima do litígio.
Enquanto secretamente
escrevo esse poemeto de amor
apaixonado que sou.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Você


Então pensei em te escrever todos os dias
um poema apaixonado
Mas pudera! - não me sobra tempo
Se a todo tempo estou ao seu lado
Ainda que em pensamento
Nas noites quentes e madrugadas frias.
Para sempre, por favor se lembre
Teamo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cadê


Não tenho quaisquer palavras doces
para vocês
Frustrado, pensei em mal dizeres
mil
Então, olhei para mim aqui sozinho
E pensei na pessoa que afastei
assim
Por encher o coração de ódio
Ao invés de preencher com amor
E minhas tantas frases bonitas
e sinceras
Eu amo, tu me amas
nos amamos...

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Limite

Não diga que forte é a luz
E triste é a escuridão
Também maléfico é o equilíbrio
que traria essa impressão
É certo que se completem
Mas não que haja um só noite-dia
É a distância, o porém
Aquilo que os diferencia
E se não for a noite mais que um dia
Não haverá lógica nas sucessões
E se não houver dia após as noites
Não haverá paz nos corações
Pois somente com o fim
um começo se descortina.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"Que sempre dê frutos"

Prossiga verde, figueira
Não irá se desmanchar
Não é sua a culpa
De com as estações mudar

Está aí uma parábola
Que não posso interpretar
Por que mais um fruto é proibido?
Não bastava esperar?

Os frutos virão, tão certos quanto o dia
E se a noite se prostrar eterna
Ainda haverá o frescor
E a paisagem de alegria

Não seque porque lhe ordenam
Nem todos os frutos servirão ao corpo
Mas ainda podem engrandecer a alma

Figos, figurem-se eternos
Mesmo em sua lembrança
Se até se movem as montanhas
Por que não figos como herança?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Não se aquabrote os oculares

De que vale o lamento
se alimento da alegria?
e de que vale de lágrimas
brotou o firmamento,
indiscreta ousadia?

E adianta chorar
se de nada adianta?
adianta brigar
com essa tautologia?

Alguns momentos se vão,
algumas pessoas também,
alguns morrem em vão
por nao se sabe o que, ou quem,
outros dias apenas passam,
outros não passam e tem
a eternidade das nossas lembranças.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Recusante

Dizer-me que a ternura é teu céu?
Que teu amor encabula e te restringe?
Do que estás a brincar?
De verdades meu mundo se faz
Embora o fantástico seja a lei
Não posso dizer que aqui há
Mais do que já considerei
Seria um jeito sacana de falar
Que do fel ou mel, nada me fez melhor
Que nem o fogo nem a água
Mudaram meu ser
Que nada há mais para querer.
Deixarei que mais um silêncio me entorne
Porque descobrir não trás o sim
Então, não me descubra.
Até mesmo as raízes verdes
As negativas sufocam.

sábado, 20 de novembro de 2010

Aanragam

O caminhar sussuro,
descampado semente.
pelo calmo arboredo,
ouço do galho a somente.

Passa um carro fumaça,
deixa em mim um vazios,
velocidade nos ares,
os quatro pneus desejo.

Estrelas cadentes discorda
cai no céu errado
no seu jardim pululam
se escondem as joaninhas.

Infancia

No canto da sala de comer
o quanto é bom dizer, conversar
o encanto de ouvir histórias,
enquanto na mesa balançar
as pernas ainda pequenas,
os causos ainda inverídicos,
e tantas memória na cenas,
e o sol da tarde no rosto.
e o céu encarde o ritmo,
me ponho a brincar com agua,
ouvindo sua voz tão calma.
Às vezes me lembro da alma.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Analgésico

Se eu sonho, não penso,
se insisto, saem palavras vãs,
tortas, sem senso,
sem extensão para a mar.

Se assim é a sina,
sem a qual não sei se vale
a pena que eu sinto
daqueles que tanto sofrem.

Se assim assassina
seus desejos mais nobres,
tampouco estricnina
quanto sustentar os pobres
tem o mesmo efeito:
o defeito de não ter.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Vejo oculto o broto de fel
amargo e mudo sou peso em pesar
quase que morto não caio pro céu
Podre e inquieto sem muito odor
quase sincero não posso chorar
negra visão com límpido labor
sonho que sonho sem dormir
a noite que me queima a visão
sofro com forte indignação
triste, não consigo sorrir
o sol há de me queimar
o fel não vai me amargurar
sou o amargo das papilas
sou minha própria sofreguidão
vivo à beira da minha própria lápide

In memoriam

Na foto o seu riso
Escondido pelas linhas do rosto
Que sei bem onde enxergar
Me afagam dizendo
Que tudo está em seu lugar
Mas está tudo torto
Porque você não é mais
E não mais será
Virando fantasma
Fez-me fixar
Não como lembrança que um dia vai passar
Mas como a presença que não vai me deixar
Incorpóreo, jamais esteve tão vivo
Vejo-o em todo lugar
Preocupada, não saudosa
Sinto-me oscilar
Oh, vida, por quê?
Obrigou-me aos silêncios
Que alimentam meu desespero
Que me afastam e escondem
Silêncios que não se calarão...

Talvez sejam o preço
deste estranho coração.

Derrocada

Sentir e não sentir se entremeiam
No mesmo corpo que sofre
Será a casca mais forte que o mal?
Ou foi tomada por ele?
Ainda resta dor
Para onde quer que olhe
E as forças são pobres
Sucumbem às crenças impostas
E a luta entra em latência
Não tiraram as armas
Mas os objetivos
Tal qual em guerra sem trégua
Deixamo-nos ir
Para as valorosas medalhas
[que nada valem].

sábado, 6 de novembro de 2010

Contemplação

Vejo que as nuvens sorriem
E que cada espaço é um mundo
Que há vida aqui
E há vida lá
Protagonistas e secundários
Vivemos no mesmo lar
Círculos em círculos
Ciclos e ciclos
Cada parte uma história
Cada história uma parte
E a poesia está onde o coração está
Não o que bombeia a vida
Mas o que bombeia a alma
Não o que escreve a história
Que estressa ou que acalma
Mas o que está onde a essência está.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lei

Desorienta o professor,
o padre e o policial,
sai ilesa da conduta,
da luta artificial
pra manter o sonho vivo,
e depois viver sem sonhar,
alugar o filho adotivo
pra contratar a babá.

Não vá fingir
que o outro é que não presta,
fingir que é infeliz,
fingir estar sempre com pressa,
mas fingir ser péssima atriz.
E diz que a vida estressa,
mas só se preocupa com seu nariz.

Não são lágrimas, é a chuva que cai no rosto

O meu dia anda chuvoso,
mas não de molhado que cai do céu.
Brumas que enchem meus olhos,
e o sentimento de réu,
escr*vo pra poder sentir
fora de mim o que é.
Escr*vo da senzala culta,
do negro pensamento.
Se cravo meu julgo ali,
é pelo discernimento
que, tenhamos que convir,
é o unico argumento.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ícone Icógnito

Quiseram os deuses antes,
adorar a nós, humanos,
Dourados e Intocáveis
troféis da criação,
que pelo seu tratamento
vai se envaidecendo então.
Que se passa pela cabeça,
pra se pensar que não,
a nada que aconteça,
perderá seu posto magno?
E o deus do trovão,
já até perdeu o gosto
de mandar, tudo em vão,
deletério tão insosso,
maltratar a mente humana.
E essa, pueril, insana,
se corrompe por ilusão,
vende o peixe, vende a alma,
troça sua fé como um grão,
perde o senso, perde a calma,
só não perde a admiração
pelo que ainda não conhece.

sábado, 30 de outubro de 2010

Licença poética

Semana que vem começa o curso, para tirar licença poética. Conto, desde já, as horas, os minutos, os segundos, esperando a hora que poderei escrever o que quiser, e minhas palavras serão quem elas quiserem.

Tenho planejado construir várias coisas com minhas palavras, pensei em construir um mundo melhor, mas descobri que isso é clichê demais. Então decidi que vou plantar uma árvore e contruir em seus galhos uma casa de vidro, com porta que sai direto na lua.

Dizem que a prova é bem difícil, mas não estou apreensivo, tenho me preparado bastante, além do mais, já é a segunda vez que faço...

No mais, me desejem sorte, espero que da proxima vez que eu escrever um texto em prosa, já esteja com minha licença poética na mão.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Enjeitado

Sumiço da submissão,
bem quisto antes,
hoje não.
Insisto em vão
que pereçam os valores
da Inquisição.
Em que sabores
se esconde a não-sensação?
E se de um não pensamento,
ao invés de um tormento,
e de perseguição, me deres alimento?
Insisto, sedento
de algum argumento,
que ores por mim.
Mesmo que sem,
o seu sentimento,
sem consentimento
para ser assim,
espero que entenda,
me surpreenda,
goste de mim.

sábado, 23 de outubro de 2010

Desconfio

Dos sons que tilintam
E das vozes que ecoam
Do sorriso partido
E do brilho que ofusca
Do escuro que dorme
E do silêncio que não canta
Das verdades que batem
E das regras que assustam
Das histórias com final
E das retas sem direção
Dos palácios sem vida
E dos jardins sem emoção
Desconfio da mente
E de meu coração

Em tese

Soube do brilho do sol
Pela intensidade da chuva
Do tremer das folhas
Pelo frescor do vento
Da estrada clara
Pelo breu futuro
Da ave rara
Pelo canto estranho
Dos meus medos
Por mostrar coragem
Das minhas verdades
Por fingir o mundo
Dos pensamentos certos
Por escaparem à linha
Soube de mim
Por não me ver - em lugar algum.

Fuga

Eu não soube escolher a resposta
Pra pergunta que não formulou
E não soube dos olhos aflitos
Que o contexto enganou
Fingi-me cega e surda
Sem entender bem o porquê
Talvez a vida o mandasse
E eu fizesse sem querer
Mas talvez, ciente de tudo,
Só quisesse esquecer
Da dúvida, do medo e da dor
Que formulam esse amor
Incerto e louco
Intenso ou pouco
Que sofro com terror.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Teima a fragilidade do cérebro

Meus olhos entreabertos queimam
pobre minh'alma delinqüente chora
vida suicida que quase morre
minha força sem luta se banha
meu amor que me lava a visão

minha fonte de inveja é o tempo
loucura encravada na carne do peito
me encarno em canções sem letra
deslizo dentre olhares descontentes

choro para lubrificar minha visão
rio sem pestanejar nem entender
sonho em pelado correr escondido

sou agora pobre de falas e rico de amor
tenho em meu coração loucuras
meu cérebro não se encoraja a sofrer

sábado, 16 de outubro de 2010

Tu-lirico

Seu gosto em minhas mãos,
suas asas em meus pés,
pesados tal que não,
conseguem alcançar a tez
macia e clara do teu rosto,
alçar vôo ao invés,
de parar e sentir teu gosto.

Mãos entrelaçadas,
olhos então vidrados,
palpitações aceleradas,
vasos dilatados,
vontades puncionadas.

Uma hora sei que falta assunto,
falta coragem, nao sei se consigo,
então te pergunto:
quer namorar comigo?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O vento toca deliciosamente os cabelos
Sei que poderia passar tempos e tempos assim
Na janela entre o céu e o véu
Fora e dentro de mim
Apreciando o sobrenatural a olhos míopes
Sem peso e sem dor
Ouvindo a doce melodia
Do cantar dos pássaros
Do bater de folhas
E da trilha que escolhi
Sentindo o calor emanar de meu corpo
Para aquecer o ambiente
Sentindo que estou saudável
Mesmo que doente
Transporto-me pelas nuvens de vapor
E sinto na água que me cobre
A delícia do amor
Estou aqui e não estou
Lágrimas se choram sozinhas
Junto com o sorriso que cresce
Mas cresce mais a energia
Que forte, me enternece.

Letras sem préstimo

Não escreva no ar
O que coloca como eterno

Há palavras que são poesia
E há palavras que são poeira
Que o mais leve sopro apaga

Tento recordar do que foi mesmo
A magia em que acreditei
E sonhar que foi o mundo real
Aquele que tanto amei

Mas depois que cessa a música
Percebo que foi apenas retorno de fantasias
Só porque eu enxergava nas ações
Mais do que eram

Eu vi a poesia
Você, a 'logia'
Pena, pobre cegueira
Deixou que sobrasse apenas asco.

Gostaria de acreditar que estávamos ali
pela vibração dos sons lentos
e pela luminosidade estelar
E que os jardins e flores
fossem também seu lar
Onde nos colocávamos
Somente a passear
Acreditando em novos mundos
Da vida que estávamos a cantar
Sonhos teus e meus
Todos no mesmo lugar
Só que não há magia para você
E acabou por ferir a minha
Ao me deixar de novo sozinha.

Não escreva no ar
Dizendo que o que houve foi terno

Há palavras que são poesia
E há palavras que nada dizem
Que vá além da superfície.

De novo dois

Malas postas à minha frente
A ditar o meu caminho
Guardados sonhos e lembranças
Cada um em seu cantinho
Memórias sem fotografias
Saltam das mudas mal feitas
Fico a remoer
Os carinhos e as desfeitas
Já não há laços
Nem broncas, nem cantigas
Partiram os abraços
E as verdades antigas.

Mais uma vez na estrada
Sem destino certo
Ou estrela almejada
Das luzes ao longe
Poucos significados
Sei de onde venho
Embora não saiba por que fui
As luzes me dizem que não estive só
Assim como os braços que amparam e aquecem
Mas não como os olhos que deixei
Que me derreteram e congelaram
Os olhos que ainda piscam na escuridão
Quando se fecham os meus.
Os olhos que me sorriram mais que o sorriso
E choraram mais que o coração
Pobres olhos sós
Donos da emoção
Estarão sós também os meus
Agora partidos, em solidão.

Baile ritual

Pichações e terror
Dão lugar ao amor
Posso sentir pelo balanço do soul
Sem amarras em praça pública
Onde não importam as roupas
nem os cabelos
Se o movimento está nos pés
ou nos joelhos
Somos estranhos, somos alguns
Amando o diferente
Sendo só incomuns
Danças ao Universo
Curtidas depois que o sol se foi
Iluminando a noite do bem
Nos unimos todos
Dizendo a quem vem
Que entre nesse mundo
Que dance também
Formando um ciclo
Um círculo, um circo
De gente do além
De transe em transe
Não estamos sós
Já não somos nós
Vemos horizontes
que a rotina não tem.

Experiência

Dizem-me ser a ciência dos céus
O modo de me fazer aprender
- Pena não vivê-las todas
Para que mais você possa saber.

Mas vejo de outra forma
Não quero esse poder
Como eu poderia
Sozinha, todas viver?

Para que eu quereria
Males e males sem fim
Só para poder dizer
Que mais eu sei de mim?

Experiências?
Que me sejam ciência
pela ciência allheia.
Não é sábio apenas o que semeia.

sábado, 9 de outubro de 2010

Rei das memórias

Não posso, não sei,

não quero mais ser rei,

se errei não quero mais,

seguirei sem olhar pra trás,

meu reino, meu tempo

cegarei ao olhar,

colher o que trás o vento.

Cegarei ao olhar pra dentro.


Chegarei sem olhar,

sem saber o que alimento,

isento de me explorar,

saudades do sentimento,

sentindo saudoso,

aquele momento.


Sem nostalgia ou prendimento,

sem o que fora outro dia,

senhoria do meu lamento

me faça perder a memória

depois devolva meu tempo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Voto

Falsa democracia
mentira cantada em carros de som
podre ideologia
Dinheiro e poder é o sonho bom
Poder que não merecia

Nada resolve, nada melhora
nada auxilia, nunca sincero
nunca, nunca sentiu o estômago estralar
Mente o debate que jura apoiar

Mente sobre democracia
manipula toda a verdade
impõe a necessidade do voto
obriga aos que não sabem e não querem saber a chance de sentirem a imoralidade da pressão e da lavagem cerebral que os porcos vomitam na sociedade que teme a mudança, teme o progresso, chora de fome e não sai de casa pra comprar comida.

Choro meu pranto em silencio
meu acalento é minha força
meu sofrimento é minha revolta
sei que se mato sou visto com maus olhos
ou vêem o mau em meus olhos...

Triste sociedade de morredores e matadores
todos sofredores...

Pobre inverdade

Triste, choro uma gota de amor
O pranto das nuvens me molha
Perco qualquer voz sem sabor
O raio do sol não me olha
Vige em mim a marca do labor
Morre antes do ventre o fruto
Maldita força nunca gera calor
Nunca sonhou, nunca viveu
Morre antes de sentir
Sofre antes de nascer
Em vezes nem nasce
Quando nasce é sem vontade
Gritos e vozes ecoam pela mente
Mente que mente quando pensa
Quando pensa, pois não pensa
Se pensa é a mentira que ama
Se ama é por falsa verdade
Falsa verdade
Falsidade

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Chuva

Gota por gota
Suspiro por suspiro
Dádiva que me tira todo o mal
As estradas brilham e se escondem,
Não é preciso pompa para que continuem vivas.
O valor está na essência
Que o tempo não pode ofuscar
Os ventos não podem levar
E as capas não podem alterar.
Os sonhos são tão reais
Quanto a intensidade das crenças.
Sorrisos, a trilha mais freqüente.
E se ouve a música, mesmo no silêncio.
Renovação, meu passo preferido.

Sobressalto

Nada de lábios ou olhares,
e sim do perfume que de ti emana,
cheiros parecidos, são milhares,
já senti um essa semana,
e me virei com expectativas,
esperando te ver de novo,
memórias ainda bem vivas,
um aroma que ainda sorvo.

Mas ao olhar, quanta decepção,
a moça sequer sonhava
a minha desilusão,
enquanto ria e acenava
pensando que era pra ela,
meus pensamentos já soturnos,
meu sorriso que agora amarela,
viro e saio, taciturno,
enquanto meu dia se esfacela.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sonar de um pensamento já fora da escuridão

Desvendo mistérios bem temidos
descanso em lugares escondidos
brindo com as palavras porcas
banho-me em linguagens mortas

Decido por gritar silenciado
sou louco e podre sem pensar
sou pobre e vívido sem notar
dedicado inútil ao deleitado

Pobres meus fracos pensares
vivem subnutridos de sobras
choro-me em lágrimas falsas

Como poeta sou falso amante
mesmo amante sou quem mente
minto o mérito desmotivante

domingo, 26 de setembro de 2010

Melancolia de estimação

De novo não encontro espaço para gritar
A força da dor sem a pureza de amar
Algemada em minhas torpes escolhas
Que o senso não pôde triar
Ódio do ódio meu
Esse irá me matar.
Sem forças para um suspiro
Sem ânimo para chorar
Qual casca vazia
Estou a me olhar
Acabou-me, acabei-me.
Sem poder pra levantar.
Perdida, sem rumo, sem lar.

À uma Brás sem memórias

Esqueço a luz
Encarcero-me
Jogo sobre mim a cruz
E aqui estão as almas sumidas
Penalizadas, não penadas
Louvando-me a morte
Como nunca em vida
Tiro de mim a cruz
Não é o fim que me conduz
Lá se vão as almas
Voltam pro além
Dizem que pra mim
Elas partiram também.
Morta eu fui.
Viva eu sou?

Veneno de Circe

Porcos chafurdando,
enganados pela contradição,
pela emoção e o instinto,
sinto muito, constituição.

Selvagens e pueris,
vis padrastos da alienação,
não mais acredito no que diz
o ditado da desilusão.

"Não lamento a coroa que perdi
Livrai-me deste corpo abominável.
Só aspiro, só peço a própria morte
Libertai-me da vida miserável."*



*Trecho do poema "Endimião", do poeta Keats.

Prole

É por raiva, e por ódio,
ou ainda por puro desprezo,
ainda saio daqui,
de onde me vejo preso,
mesmo podendo ir
no lugar o qual desejo.
Já não tem o meu respeito,
já nao quero mais ser igual,
comigo perdeu todo o direito
de dizer o que é ilegal.
Comigo já nao tem jeito.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Madrugada

Acordo sobressaltado,
mas aliviado suspiro,
quando te vejo ao meu lado.
Então eu passo os lábios
roçando no seu pescoço,
mãos hábeis deslizando
pela barriga e pelo dorso.
Meus dentes e sua orelha,
sempre atração fatal,
e com um sopro a centelha,
um pecado capital.
Você se vira e me abraça,
depois beija ternamente,
nossas pernas se entrelaçam,
outro olhar simplesmente,
que me faz sentir tranquilo
e me diz tudo que sente.
Me abraça e diz que ama.
Então acordo tristonho,
sozinho na minha cama,
tudo não passou de um sonho.

Porta retrato

Ficou gravado no papel,
seu olhos e seu sorriso,
liso, solto, raro céu
que remete o paraíso.

Que faço eu então agora?
pra te arrancar daí?
me olhando e me ignora,
e o tempo todo sorri!

Espero que seja eterno,
pelo menos a fotografia
que guarda tal momento terno.

Olharemos pra ela um dia
e a saudade um inferno,
eterna melancolia.