quinta-feira, 27 de maio de 2010

Dona M

Oito filhos
Vários netos
Dois bisnetos
Vida sofrida
Deixada sozinha
Filhos pequenos
Trabalho duro
Tão sozinha!

Todos grandes
Todos formados
Tanto sucesso
Depois de tanto trabalho

Lá se vão as duas pernas
Lá se vão seus dois olhos
Lá se vai sua família

A grande família que cresceu
com sofrimento e esforço daquela nobre mulher
Que hoje é uma senhora
Que não pode andar sozinha
Que não pode ver o mundo
Que detesta ser dependente
Que perdeu as razões de viver
Que de todas as tristezas
Amarga a de uma família ingrata
Família que já luta pelos bens que serão herdados
Que quer mandar a mãe pro asilo

E a velhinha só quer morrer
E me diz com aquelas doces lágrimas e
o fofo cabelo branco
Que nada mais faz sentido
E me deixa sem palavras

Posso sentir aquela dor
Olho com raiva para os filhos ingratos
Filhos que não quero entender
Olho com raiva para mim
E digo o que não quero dizer
Porque é minha obrigação
falar a ela pra viver
Para lutar e para sofrer

E eu ganho um abraço
Emocionada
E a senhora abençoa o meu trabalho.
E eu maldigo o meu trabalho.
E admiro a dona M.
Tão sozinha!
Nunca tive aquela força.

3 comentários:

  1. porra, luma, isso nao vale!
    quase chorei... na boa.

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  2. rssss...E a droga é que nem cheguei perto de retratar a Dona M. Minhas palavras não a alcançam...

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