quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Chuva

Gota por gota
Suspiro por suspiro
Dádiva que me tira todo o mal
As estradas brilham e se escondem,
Não é preciso pompa para que continuem vivas.
O valor está na essência
Que o tempo não pode ofuscar
Os ventos não podem levar
E as capas não podem alterar.
Os sonhos são tão reais
Quanto a intensidade das crenças.
Sorrisos, a trilha mais freqüente.
E se ouve a música, mesmo no silêncio.
Renovação, meu passo preferido.

Sobressalto

Nada de lábios ou olhares,
e sim do perfume que de ti emana,
cheiros parecidos, são milhares,
já senti um essa semana,
e me virei com expectativas,
esperando te ver de novo,
memórias ainda bem vivas,
um aroma que ainda sorvo.

Mas ao olhar, quanta decepção,
a moça sequer sonhava
a minha desilusão,
enquanto ria e acenava
pensando que era pra ela,
meus pensamentos já soturnos,
meu sorriso que agora amarela,
viro e saio, taciturno,
enquanto meu dia se esfacela.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sonar de um pensamento já fora da escuridão

Desvendo mistérios bem temidos
descanso em lugares escondidos
brindo com as palavras porcas
banho-me em linguagens mortas

Decido por gritar silenciado
sou louco e podre sem pensar
sou pobre e vívido sem notar
dedicado inútil ao deleitado

Pobres meus fracos pensares
vivem subnutridos de sobras
choro-me em lágrimas falsas

Como poeta sou falso amante
mesmo amante sou quem mente
minto o mérito desmotivante

domingo, 26 de setembro de 2010

Melancolia de estimação

De novo não encontro espaço para gritar
A força da dor sem a pureza de amar
Algemada em minhas torpes escolhas
Que o senso não pôde triar
Ódio do ódio meu
Esse irá me matar.
Sem forças para um suspiro
Sem ânimo para chorar
Qual casca vazia
Estou a me olhar
Acabou-me, acabei-me.
Sem poder pra levantar.
Perdida, sem rumo, sem lar.

À uma Brás sem memórias

Esqueço a luz
Encarcero-me
Jogo sobre mim a cruz
E aqui estão as almas sumidas
Penalizadas, não penadas
Louvando-me a morte
Como nunca em vida
Tiro de mim a cruz
Não é o fim que me conduz
Lá se vão as almas
Voltam pro além
Dizem que pra mim
Elas partiram também.
Morta eu fui.
Viva eu sou?

Veneno de Circe

Porcos chafurdando,
enganados pela contradição,
pela emoção e o instinto,
sinto muito, constituição.

Selvagens e pueris,
vis padrastos da alienação,
não mais acredito no que diz
o ditado da desilusão.

"Não lamento a coroa que perdi
Livrai-me deste corpo abominável.
Só aspiro, só peço a própria morte
Libertai-me da vida miserável."*



*Trecho do poema "Endimião", do poeta Keats.

Prole

É por raiva, e por ódio,
ou ainda por puro desprezo,
ainda saio daqui,
de onde me vejo preso,
mesmo podendo ir
no lugar o qual desejo.
Já não tem o meu respeito,
já nao quero mais ser igual,
comigo perdeu todo o direito
de dizer o que é ilegal.
Comigo já nao tem jeito.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Madrugada

Acordo sobressaltado,
mas aliviado suspiro,
quando te vejo ao meu lado.
Então eu passo os lábios
roçando no seu pescoço,
mãos hábeis deslizando
pela barriga e pelo dorso.
Meus dentes e sua orelha,
sempre atração fatal,
e com um sopro a centelha,
um pecado capital.
Você se vira e me abraça,
depois beija ternamente,
nossas pernas se entrelaçam,
outro olhar simplesmente,
que me faz sentir tranquilo
e me diz tudo que sente.
Me abraça e diz que ama.
Então acordo tristonho,
sozinho na minha cama,
tudo não passou de um sonho.

Porta retrato

Ficou gravado no papel,
seu olhos e seu sorriso,
liso, solto, raro céu
que remete o paraíso.

Que faço eu então agora?
pra te arrancar daí?
me olhando e me ignora,
e o tempo todo sorri!

Espero que seja eterno,
pelo menos a fotografia
que guarda tal momento terno.

Olharemos pra ela um dia
e a saudade um inferno,
eterna melancolia.

Donzela

Te invejo pelo sumiço
da minha respiração,
não há mais tanto viço,
nem tanta sonhação,
já perdi até a conta
de quanta conta perdi
por esperar sua aparição.
Uma ponta de saudade
de ti, minha inspiração.
E quando vierem eles,
disputar por sua atenção,
em cortejos infindáveis
de presentes e bajulação,
te esperarei na saída,
com um sorriso e uma flor na mão.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Chave

Eu achava que acharia.
Eu fingia que o fim via.
Eu acreditava que daria.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Da janela vejo...

As poças que refletem o céu,
refletem tambem meu pensamento,
isento de qualquer vontade.
Um suspiro e um lamento,
por preferir sempre a verdade.
Penso longe, passa lento,
o tempo escorre pela cidade.

desAtino

Não sei por que a lua controla as marés
Não sei por que tenho a gravidade aos meus pés

Se a história certa é a que sinto
E sou covarde o bastante pra esconder
Qual o texto em que minto
Tudo em que há para crer?

Não sei por que o sono não deixa que eu durma
Não sei por que me sinto só mesmo em turma

Se a natureza acompanha e guia
E me lembra da Força em meu eu
Por que não vem do vento a energia
E preciso também do mundo teu?

Não sei o que estou a fazer
Não basta ser eu pra entender.

Se a verdade foi aquela que escrevi
E a mentira tudo aquilo que não disse
Onde está a fala que perdi?
Viva em minha própria quixotice?

sábado, 18 de setembro de 2010

Sonheto

O que vejo da noite é neblina
As verdades que o sonho não quis
Mil desencontros da vida feliz
Que pensei não tornar-se rotina

Perdi do autor a minha sina
Aquilo que o fez grande juiz
Não as mesmas histórias que fiz
Dos tempos de amar ser menina

Pois de pequena meu mundo se fez
Tornei paradoxa a vitória
Cantei meu futuro mais outra vez

Derrubei da moral toda glória
Colori a estrada e a tez
Mas sei bem, não há fim pra história.

Pena

Vivo de acreditar na vida
Que os tempos uma vez mudarão
De novo não vejo saída
E percebo que corri em vão

Sem estrada, sem rumo, sem chão
Sobre céu e sob mar
Em minha simples solidão
Doces sons de vida

Apenas, coração.
As penas da emoção.
Apenas coração.
Minha pena.

Sem dó, não é pequena.

Pensamento

Sempre paro pra pensar
nas horas infelizes.
Sempre raro e devagar,
sem caneta e papel,
vindo de algum lugar
entre o inferno e o céu,
a entrecortar a inspiração.
Partilha com a ideia o véu
da sombria divagação
que sempre surge na cabeça,
antes de fazer qualquer coisa,
antes que tudo aconteça.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ÀDeus

O chão está onde o coloco
E deixo a vida sem teto
Para que o pra cima
Seja inalcançável
Ao menos uma estrada definida
Mesmo se em cima for embaixo
Farei do baixo um cisma
Se posso decidir.
Previsível que o caminho desvie
E para longe de mim se toque
Ouço antes que os sons alcancem
E sorrio das palavras não ditas
Mas até os saltos se dobram
Quando advinho o próximo verso.
Livre. Como o arbítrio.
Presa, como todo juízo.

Setembros (ao 12)

Das folhas do tempo
Belas primaveras

Após tanto sol
Finalmente me queimo

A chuva me transporta
Transforma

Das cinzas ao verde
Renasço.

f Valsa

Das pulsações, o ritmo
Como em sonho sem fim
Sem corpos, sem mentes
Em baile por mim
Da alegria de outrora,
apenas o sorriso do agora.
Terno, mas falso
Vestido de dor
Valsando sem sentido
Pelos tempos de amor.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Virginiano

Mais que rio de desencanto,
e se encanto, um calafrio,
pois por pura insegurança,
que eu me rio, qual criança,
a ouvir seu desvario.

Se me perco, tu me achas,
se das achas, brasa queima,
queima meu peito em pedaços,
de tão pueril que me lembro
dos nossos momentos escassos.

E é essa criança inocente,
que teima em brincar de esperança,
cansa a cabeça da gente,
que só pensa em lembrança
e só lembra do que sente.

domingo, 12 de setembro de 2010

Derivada

Estou no limite,
com 'x' tendendo a 'a',
as imagens delas se encontram
no eixo das ordenadas para dar,
quando dividos por 'h',
as inclinações da curva.
As notações são estranhas,
fazem confusão:
o 'h' é a diferença no espaço de domínio
que eu vivo a insistir:
essa diferença tende a 0!
E o que sinto é que não entendem
que 0 é diferente de nada:
enquanto o nulo não existe,
o 0 tem valor, não é 'nada'.
O que não se entende
é que a tangente descreve a inclinação
da curva aquele momento.
A fórmula que descreve a função,
mostra o encontro das duas linhas,
quando substituimos os valores
pelas coordenadas cartesianas.

Devagarções

Amarras juntando as mãos
firmemente no laço,
passa o tempo e então
me fazem esquecer que o abraço
nasce de dentro, e não
do braço, do beijo e da dor.
Cada espaço que ocupo,
nada mais é do que cor.

Nado, mas nada de praia.
Às vezes penso que a falha
está em nadar demais.
Outras acho que o erro
está em ouvir sempre os pais.

Amanhã já é outro dia,
outra ideia e outro ideal,
não farei mais o que faria
verder-me-ia para o mal,
o caminho sempre largo,
amargo, escuro e teatral.


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

deplorado ao deleite

enfastiado de circular desorientado
despido, aos trapos, sem vida
sofrendo por uns dois dias a mais
da vida que não é mesmo minha
destarte, de um suspiro à lágrima
do tormento ao motejo pérfido

canto num canto qualquer e nunca encanto
deploro-me no desejo de um deleite
finjo a uma felicidade forjada
mais motejo ao meu mundo manhoso.