quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Recusante

Dizer-me que a ternura é teu céu?
Que teu amor encabula e te restringe?
Do que estás a brincar?
De verdades meu mundo se faz
Embora o fantástico seja a lei
Não posso dizer que aqui há
Mais do que já considerei
Seria um jeito sacana de falar
Que do fel ou mel, nada me fez melhor
Que nem o fogo nem a água
Mudaram meu ser
Que nada há mais para querer.
Deixarei que mais um silêncio me entorne
Porque descobrir não trás o sim
Então, não me descubra.
Até mesmo as raízes verdes
As negativas sufocam.

sábado, 20 de novembro de 2010

Aanragam

O caminhar sussuro,
descampado semente.
pelo calmo arboredo,
ouço do galho a somente.

Passa um carro fumaça,
deixa em mim um vazios,
velocidade nos ares,
os quatro pneus desejo.

Estrelas cadentes discorda
cai no céu errado
no seu jardim pululam
se escondem as joaninhas.

Infancia

No canto da sala de comer
o quanto é bom dizer, conversar
o encanto de ouvir histórias,
enquanto na mesa balançar
as pernas ainda pequenas,
os causos ainda inverídicos,
e tantas memória na cenas,
e o sol da tarde no rosto.
e o céu encarde o ritmo,
me ponho a brincar com agua,
ouvindo sua voz tão calma.
Às vezes me lembro da alma.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Analgésico

Se eu sonho, não penso,
se insisto, saem palavras vãs,
tortas, sem senso,
sem extensão para a mar.

Se assim é a sina,
sem a qual não sei se vale
a pena que eu sinto
daqueles que tanto sofrem.

Se assim assassina
seus desejos mais nobres,
tampouco estricnina
quanto sustentar os pobres
tem o mesmo efeito:
o defeito de não ter.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Vejo oculto o broto de fel
amargo e mudo sou peso em pesar
quase que morto não caio pro céu
Podre e inquieto sem muito odor
quase sincero não posso chorar
negra visão com límpido labor
sonho que sonho sem dormir
a noite que me queima a visão
sofro com forte indignação
triste, não consigo sorrir
o sol há de me queimar
o fel não vai me amargurar
sou o amargo das papilas
sou minha própria sofreguidão
vivo à beira da minha própria lápide

In memoriam

Na foto o seu riso
Escondido pelas linhas do rosto
Que sei bem onde enxergar
Me afagam dizendo
Que tudo está em seu lugar
Mas está tudo torto
Porque você não é mais
E não mais será
Virando fantasma
Fez-me fixar
Não como lembrança que um dia vai passar
Mas como a presença que não vai me deixar
Incorpóreo, jamais esteve tão vivo
Vejo-o em todo lugar
Preocupada, não saudosa
Sinto-me oscilar
Oh, vida, por quê?
Obrigou-me aos silêncios
Que alimentam meu desespero
Que me afastam e escondem
Silêncios que não se calarão...

Talvez sejam o preço
deste estranho coração.

Derrocada

Sentir e não sentir se entremeiam
No mesmo corpo que sofre
Será a casca mais forte que o mal?
Ou foi tomada por ele?
Ainda resta dor
Para onde quer que olhe
E as forças são pobres
Sucumbem às crenças impostas
E a luta entra em latência
Não tiraram as armas
Mas os objetivos
Tal qual em guerra sem trégua
Deixamo-nos ir
Para as valorosas medalhas
[que nada valem].

sábado, 6 de novembro de 2010

Contemplação

Vejo que as nuvens sorriem
E que cada espaço é um mundo
Que há vida aqui
E há vida lá
Protagonistas e secundários
Vivemos no mesmo lar
Círculos em círculos
Ciclos e ciclos
Cada parte uma história
Cada história uma parte
E a poesia está onde o coração está
Não o que bombeia a vida
Mas o que bombeia a alma
Não o que escreve a história
Que estressa ou que acalma
Mas o que está onde a essência está.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lei

Desorienta o professor,
o padre e o policial,
sai ilesa da conduta,
da luta artificial
pra manter o sonho vivo,
e depois viver sem sonhar,
alugar o filho adotivo
pra contratar a babá.

Não vá fingir
que o outro é que não presta,
fingir que é infeliz,
fingir estar sempre com pressa,
mas fingir ser péssima atriz.
E diz que a vida estressa,
mas só se preocupa com seu nariz.

Não são lágrimas, é a chuva que cai no rosto

O meu dia anda chuvoso,
mas não de molhado que cai do céu.
Brumas que enchem meus olhos,
e o sentimento de réu,
escr*vo pra poder sentir
fora de mim o que é.
Escr*vo da senzala culta,
do negro pensamento.
Se cravo meu julgo ali,
é pelo discernimento
que, tenhamos que convir,
é o unico argumento.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ícone Icógnito

Quiseram os deuses antes,
adorar a nós, humanos,
Dourados e Intocáveis
troféis da criação,
que pelo seu tratamento
vai se envaidecendo então.
Que se passa pela cabeça,
pra se pensar que não,
a nada que aconteça,
perderá seu posto magno?
E o deus do trovão,
já até perdeu o gosto
de mandar, tudo em vão,
deletério tão insosso,
maltratar a mente humana.
E essa, pueril, insana,
se corrompe por ilusão,
vende o peixe, vende a alma,
troça sua fé como um grão,
perde o senso, perde a calma,
só não perde a admiração
pelo que ainda não conhece.