segunda-feira, 23 de agosto de 2010

SinA qua non

Que eu sorria após respirar
Que das lágrimas me batize
Vez por vez e me renove
Que da paisagem surjam versos
Dizendo por fora o interior
Que do silêncio surja a música
Que o fôlego seja curto
Mas deixe que eu curta
Que as danças sejam eternas
Em cada segundo de inspiração
Que as dificuldades sejam internas
A cada momento de transpiração
Que flexível seja o corpo
Mesmo que não o seja a mente
Que mais confunde que alivia
As dores do nobre carente
Que as estradas sejam estranhas
Para que não faltem os tropeços
O que seria de minha vida
Sem os numerosos recomeços?
Que as faces sejam mil
Para usa-las como ardil
Que a natureza seja a alma
Que alimenta e me acalma
Que o amor seja base,
regra e rumo
Que as perguntas digam mais que as respostas
Que a fantasia seja real
Ainda que a verdade seja fantástica
Que a palavra seja o vício
Mais primitivo e voraz
Que lindo seja o caminho
E livre o pensamento
Que a eternidade seja
E que nada baste por si só.
Sina
Sem a qual nem aqui estaria
Sem a qual eu nada seria.

Sensatez?!

Cega de minhas visões de mundo
Cega do que julgo ser
Sem ver o que me pedem
Nem o que posso querer.

Abertos os olhos se fecham
Fechados a mente se abre
Sinto o poder do agora
E temo que tudo desabe.

Quem tenta a lucidez
Perde de novo o caminho
Não é minha esta vez
Pode seguir sozinho.

Não acho que é sensatez
Sentir o acontecer
Mas quem disse que alguma vez
Fui eu a escolher?

Segundos

Meio minuto pra pensar
No que posso escolher
Tento não duvidar
Será o que vai ser

A surpresa é grandiosa
Estranha eu posso ser
Sei que sigo o coração
É esse meu poder

Sorrir a toda prova
Eu sei me entender
Gosto de ser nova
Também não sei ceder.

Suspiros, palavras
Verdades antigas
Mudo meu mundo
Em poucos segundos.

Feche os olhos

Bem aqui eu estarei
A rimar sem nem sentir
Pra você eu mentirei:
- Já sei pra onde ir

A verdade que escondi
Há muito se perdeu
O sonho que pedi
Também não era meu

Ver seguir sem sentir falta
Dói demais mas não me mata
Toda prova do que fui
Está nessa fala chata

Não posso pedir que acredite
Mais no que sente do que no que vê
Fuzilaria em último olhar
Se insinuasse não ser o que crê.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Falso poeta

um poeta de pobre vernáculo
que copia da falsa cópia
apenas obras de nunca óperas
nunca cantadas nem deleitadas
nunca sentidas, nunca choradas

Pobre do falso poeta
que é cópia do falso veneno
que nunca intimida nem ama
não faz amor nem por deleite
não ama, não mata

Sofrimento derramado
espalhado sem pudor ou dor
sem fluência nem boas lágrimas
nem arrepia, não delicia

Janela de guilhotina

O silêncio me pressiona os ouvidos
É verdade que os sonhos estão próximos
Mas não os vejo nesse reino vazio.
Como que jogada no branco
Vejo luz, mas não definição
Vejo paz, mas não meu coração.
Deixei que se cruzassem as estradas erradas
Não passei pelos atalhos
Mas também perdi a longa caminhada
Para o sol ou para a chuva
A vista clara ou mesmo turva
Sei que os sonhos se abrirão
Após essa janela de meu coração
Apenas um salto e estarei do outro lado
Onde a mata é mais verde
E as flores mais sãs
Onde as fantasias são reais
E as pessoas mais irmãs
Mas algo me prende aqui
Hábito do meio caminho
Não sei onde devo estar.
Em cima da janela,
Olho para fora
Olho para dentro
Fecho os olhos, respiro
Meu santo tormento.
Círculos.
Ando e ando no mesmo lugar.
Desça logo, janela,
defina onde devo ficar.

Para a casa, a última lona

Deixo que caia
O único pranto que salva
Ao menos do ódio
O pobre coração

Cada lágrima de dor
Cada centavo de amor
Gasto com um sonho
Se perdem na ingratidão

Como pode haver tanta maldade
em um ser?
Como pode alguém só querer
causar desprazer?

Ouço que era uma brincadeira
De jovens sem o que fazer
Mas para mim isso é besteira
Não pretendo entender

O que sei é que foi abaixo
Um lar sonhado por meses
Destruído todo um esforço
Suado e sofrido por vezes

Vejo apagada a esperança
Nos jovens olhos de mel
De quem trabalha desde criança
E só tem sentido o fel.

domingo, 15 de agosto de 2010

Pára disso.

Paranóico,
paralelo,
parecido.
Paradigma,
para ti,
pára tu.
para-quedas,
para-raios,
para mim.
Só nao pode parar de amar.

Catástrofe

O tempo correu mais depressa
Mais do que foi possível acompanhar,
E caem coisas pelo caminho
dessas mudanças de ultima hora.

Agora que nessas andanças
se alcança mais do que pede,
Aurora te peço esperança
pois hoje minha força cede.

Um som estalido no ouvido,
e toca um tom já esquecido.
Um cheiro comum de nós dois,
uma velha música de um outro sabor.
Tudo já tão distante,
o ontem, um livro,
empoeirado na estante.

'Abra sua mente'
'Abra seus sonhos'
'Explore os sentimentos'
Sinta e pereça.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Bem-do-século

Era dia e a aurora a sorrir
Deixava vontades
Vontade de ir
Para a nova vida que nasceu
E sei que eras tu que cantavas
Aquele que era o sonho meu.
E então partíamos
A correr
Sem em nenhum momento saber
Qual a estrada do juízo.
O certo é que eu tinha e tenho
tudo que preciso.
E, junto de nós,
Com multidão ou a sós
Corre a vida
Cheia de prós.
O belo é tentarmos manter
Aquilo que queremos ser
Dos sorrisos puros
Aos beijos e abraços
Em nossa pele quente e fria
Com ou sem harmonia
O que importa é ouvir a melodia
Das folhas, dos ventos
De nossos próprios tormentos
Dissolvidos em gargalhadas
A melodia que fazemos
Instante após instante
Em nossa crença de que a luz
Estará perto
Mesmo que distante.
E a saudade só faz cócegas
Alardeando novas eras
Em que continuarás
A ser quem tu eras
Em que, de mãos dadas,
Crendo em gnomos e fadas
Pularemos a alardear
O bem que é viver
O bem que é amar
Talvez até chorar...
Apenas de puro prazer.
Oh, Toninho Álvares!
Parente de dia e mês...
Mostraremos como, além
das desventuras,
podem ser eternas também
as aventuras!
E que bom seria se viesses
a sorrir outra vez!
E conosco cantar,
em suas doces poesias,
as belezas da insensatez.
Abarcar a vida
louca e não sofrida...
E viver após viver.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

um riso perdido

Dedos que se calam
a nota nem nota que não é notada
nada se toca senão a vida
nem mais existe o tom do som
um violão desafinado
cordas quase rachadas
sorte quase perdida
sonhos quase matados
a morte em meus ouvidos toca
a musica que morre
o som que deixa de existir
o desespero que se cala
deixo de esperar e espero
canso de sentir-me no espelho
minha barba por fazer já é desleixo
meu rosto se esconde
não mais aqui fico
nem sei aonde
nem as pernas estico
não ando e corro
não canso e morro
meu suor é meu próprio sangue
de olhos fechados
sem perceber
de meus poros brotam uma lágrima doce

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dedos de lágrimas

Desgraça de amargura percebida no peito
sigo sem rumo e sem chão a qualquer lugar
sempre em frente sem abrir os olhos
mesmo que eu busque meu lugar perfeito
sofro a luxúria do sentido de amar
com o corpo aberto e a mente fechada
meio em canto comum com as mesmas ideias
sem ideal, sem ser real
mentindo pra mim até sobre mim
quando canto ou corro, sinto
quando fico e choro, sofro
não sou eu quando me escrevo
nem quem sou não me quer ser
no sofrimento de meus dedos
grito antitético noutro canto

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Durmo o medo meu

sopro que nem resfria nem me aquece
morre na pele o tato sem sentido
sem gelo seco nem fogo ardente
sem agonia nem bater de dentes

Fala calada que ouço o inaudito
Riso cantado sem nota nem tom
Por um sussurro grito por dentro
num respirar sinto alivio bom

Canto num canto sem voz
Sem vez aquieto-me só
Medo meu de um sono profundo
de num canto não mais me ouvir cantar

Trilha

A paisagem é inebriante
Mesmo seca em seus galhos e aromas
Mesmo rachada em sua terra e suspiros
Cada subida é um lance
Cada passo uma vitória
Sem destino certo
para cima
Onde o fôlego não mais alcança
Onde a estrada se fecha
Sem deixar pista nem brecha
Do que virá
Outros passantes desviam
Vão para algum lugar
Incerto
Incertas todas as metas
dos que estão a trilhar
Ritmo constante
Só não se pode parar
Cada descanso custa mais
do que se possa pensar
Ruídos vêm de todo lugar
Mas o foco se mantém
Não podemos desviar
Até que cheguemos tão em cima
Onde já não possamos respirar
Onde não vemos mais sentido
Em trilhar só por trilhar
Porque em cima nada há
pra declarar
Fincar bandeira? Acampar?
Quais as glórias?
Qual a lógica de lá estar?
É a mesma paisagem de sempre
Mas aquele não é o lar
Sem caminhos novos
que possamos almejar
Descemos
Descemos pelo mesmo lugar.